O que torna o governance officer fundamental nas companhias?

Para Luiz Gustavo Gouvea, o profissional deve dominar os 3 “G”s da governança corporativa: gente, gestão e governança

  • 28/08/2023
  • Angelina Martins e Gabriele Alves
  • Bate-papo

No painel sobre Governance Officer (GO) durante o evento Governança 360, realizado pelo IBGC, no dia 2 de agosto, falou-se muito sobre a função de GO ser importante para a longevidade das empresas. Mas também foi comentado que a função precisa viver muito o dia a dia da organização e os relacionamentos para exercer a função.

Com essa perspectiva, o Blog IBGC convidou para um bate-papo Luiz Gustavo Gouvea, diretor de governança corporativa da Vale, que durante o evento moderou a palestra “Por que investir em um Governance Officer?”. Acompanhe:

Blog IBGC: Na sua visão, quais são os requisitos técnicos e comportamentais  que fazem a diferença em um GO?
Luiz Gustavo Gouvea: Há que se destacar a capacidade de antecipar discussões e apresentar alternativas a problemas complexos e gerenciar mudanças em um ambiente fluido, incluindo a capacidade de moldar e preparar a função “para o futuro", especialmente no que diz respeito aos objetivos estratégicos da empresa e à jornada de transformação à frente. Mas existem outros requisitos muito importantes:

● Capacidade de organização, raciocínio lógico e analítico para atuar em questões complexas de negócios de maneira focada, clara e eficaz, gerenciando ambiguidades entre diferentes partes interessadas.
● Habilidade de enfrentar questões complexas, conciliando e mediando interesses na busca pelo consenso.
● Habilidade de relacionamento interpessoal com autoconsciência e automotivação; tato e diplomacia com todas as partes interessadas.
● Habilidades de colaboração com colegas e determinação para alcançar resultados para o grupo.
● Capacidade de comunicação concisa e eficaz, verbalmente e por escrito, atuando como um comunicador capaz de apresentar ideias de forma articulada e aberta e efetivamente influenciar e orientar as partes interessadas com quem se relaciona.
● Capacidade de atuação sob alta pressão, equilíbrio emocional e maturidade, para conciliar a alta diversidade de assuntos e demandas simultâneas, oriundos de diferentes stakeholders, construindo, propondo e alinhando ações e planos, de forma a alinhar as diferentes partes na direção dos objetivos da companhia.
● Experiência na liderança de times, negociações complexas, atuação no âmbito da alta administração de empresas, transformação cultural, gestão de mudanças, gestão de sistemas de informação, relação com entidades externas.
● Conhecimento de legislações nacionais e internacionais de governança corporativa e mercado de capitais, regulamentos da CVM, B3, SEC, NYSE e entidades reguladoras e de mercados de capitais; experiência em ferramentas para a transformação digital da função governança (portal de governança); fortes habilidades de comunicação, interlocução, pesquisa, análise e pensamento crítico, gestão de negócios e processos.

Quais recomendações você gostaria de compartilhar para quem busca essa carreira? É possível que jovens que estão começando no mundo profissional possam iniciar como GO?
O profissional de sucesso da governança deve dominar os 3 “G”s da governança corporativa: Gente, Gestão e Governança. O(A) GO é o(a) líder desta disciplina em sua companhia. Vejamos:
Gente: a formação de profissionais para a área, em todos os níveis, será um desafio ao longo dos próximos anos, com o crescimento da função e da disciplina Governança Corporativa. O(A) GO é um(a) líder de pessoas, tanto de seu time, quanto das muitas interfaces que influenciam.
Gestão: a área de governança é um “centro nervoso” de informações estratégicas e confidenciais, e de processos. O(A) GO é o(a) líder deste sistema em sua companhia.
Governança: a prática de governança tem um aspecto fortemente técnico, demandando conhecimento de legislações nacionais e internacionais de governança corporativa e mercado de capitais, regulamentos da CVM, B3, SEC, NYSE e entidades reguladoras e de mercados de capitais. O(A) GO deve se especializar nestes temas, tornando-se um(a) advisor de governança da companhia, e ser o(a) pivô do desenvolvimento deste conhecimento em seu time e na companhia.

Minha recomendação a jovens que queiram crescer nesta carreira é que comecem sua atuação na “operação” da governança corporativa: elaborando pautas, interagindo com as áreas de interface, analisando materiais deliberativos e informativos, gerindo as demandas do conselho, gerenciando as informações do portal de governança, entre outras atividades.

Aquele(a)s que vierem de uma formação em Direito, devem investir fortemente no conhecimento do negócio de sua empresa e de gestão. E aquele(a)s que venham de uma formação de Negócios, devem investir fortemente no conhecimento de governança/societário. O(A)s jovens profissionais que investirem nestas experiências, desenvolverão ao longo da carreira profundos conhecimentos práticos e teóricos de governança corporativa, e certamente se tornarão governance officers de sucesso.

Você gostaria de destacar algum desafio típico do cenário empresarial brasileiro que precisou contornar ou que ainda vê como obstáculo nessa carreira hoje?
A posição de GO ainda é uma novidade nas empresas brasileiras, sendo dominante a posição de secretário(a) de governança, mais focada na operação da governança (agendamentos de reuniões, elaboração e arquivamento de atas, registros de demandas etc.). O(a)s atuais líderes da governança corporativa compõem a geração de profissionais que está transformando esta função, ao liderar, em conjunto com o conselho e o(a) presidente do conselho, o desenvolvimento e implementação da estratégia de governança corporativa, e buscando a adoção cada vez maior de melhores práticas globais por companhias brasileiras. Este é um processo de transformação organizacional e cultural, fundamental para a solidificação do(a) GO com um(a) líder sênior, fundamental para o sucesso das companhias.

Quer deixar alguma mensagem, a partir das trocas que você teve no Governança 360? Fique à vontade.
O forte engajamento, a qualidade dos debates e o alto nível dos participantes tornaram o Governança 360 um marco na jornada de evolução da governança corporativa no Brasil. A diversidade dos temas críticos discutidos durante o evento, que abrangem desde a geração de valor dos conselhos, passando por ESG, ética, mercado de capitais e chegando à inteligência artificial demonstram ao mesmo tempo a complexidade e o potencial transformador da boa prática da governança.

Acesse o Portal do Conhecimento e leia também a publicação do IBGC Governance Officer.
Clique aqui e confira outras entrevistas realizadas pelo Blog IBGC

Confira as últimas notícias do Blog IBGC