Riscos e oportunidades materiais na governança climática

Artigo do IBGC Dialoga discute estratégias para reduzir emissão de gases de efeito estufa global e nacionalmente

  • 25/07/2023
  • Tomas Carmona, IBGC Dialoga
  • Artigo

No primeiro semestre de 2023, mais um grupo com aproximadamente 35 associados(as) do IBGC se reuniu mensalmente para trocar conhecimentos e experiências sobre o tema das mudanças climáticas e seus impactos na governança corporativa. Os encontros aconteceram dentro da iniciativa denominada “IBGC Dialoga Governança Climática”, que rodou seu segundo ciclo e já foi possível trazer aprendizados do primeiro grupo de 2022.

Ficou clara a necessidade de trazer mais materialidade para as conversas, desta forma participantes teriam condições de levar mais elementos para os processos de tomada de decisões que atuam diretamente ou influenciam.

Algumas perguntas norteadoras foram aplicadas em discussões em grupos menores e depois compartilhadas na plenária. Foram feitas perguntas abertas relacionadas as experiências dos(as) participantes quanto a inclusão das alterações climáticas nas análises de riscos e oportunidades materiais, nos processos e na capacidade de tomar ou influenciar decisões. As perguntas foram adaptadas do Princípio da Análise da Materialidade, que faz parte do documento: Como estabelecer uma governança climática efetiva nos conselhos de administração - Perguntas e princípios norteadores, de autoria do Fórum Econômico Mundial e com tradução do IBGC realizada em 2022.

Levar apenas perguntas para o grupo não seria suficiente para o melhor entendimento dos desafios, desta forma pude contar com convidados(as) especiais que dividiram seus conhecimentos ao longo dos encontros.

Aproveito o artigo para agradecer aos convidados(as): Professor Guarany Osório, da EAESP/FGV, ao Fernando Merino, sócio do escritório de advocacia Steptoe & Johnson LPP, e Denise Hills e Regina Magalhães, experientes executivas, conselheiras e professoras especializadas em inovação e sustentabilidade.

O grupo pode discutir o tamanho do desafio para que os compromissos de redução de impactos assumidos pelos países possam ser atingidos, e as diferenças entre os riscos físicos e os riscos de transição, com suas necessidades de mitigação e adaptação. Para trazer a necessária materialidade, a conversa teve como pano de fundo a contribuição dos setores para as emissões de Gases de Efeito Estufa (GEE), globalmente e nacionalmente.

As questões de litígios climáticos e barreiras comerciais também foram objeto de diálogo nos encontros, dado o crescente risco com os movimentos da União Europeia e dos Estados Unidos, que estão implementando novos arcabouços para temas ambientais, trabalhistas e de tecnologia.

Foram apresentados e discutidos o exemplo da evolução da política de estado do governo americano, que busca trazer mais competitividade via incentivos fiscais para instalação de indústrias para energia renovável, e a Lei Anti Desmatamento da União Europeia, que afeta diretamente exportadores de gado, cacau, café, óleo de palma, soja, madeira e borracha, assim como seus produtos derivados, pois terão que demonstrar que seus produtos não vieram de áreas de desmatamento e precisam implementar os controles internos (due diligence, rastreamento e auditoria).

Quando tratamos da pauta climática e seus impactos na governança corporativa, é importante não ficarmos apenas na discussão de riscos, mas também trazer o lado das oportunidades de negócios. Os setores produtivos brasileiros possuem todo o potencial de serem os principais protagonistas da agenda climática competitiva, dada a matriz energética no país e seu potencial de evolução, desde que seja possível fazer a “lição de casa” de zerarmos o desmatamento ilegal e a recuperação das áreas já degradadas.

As experiências de transformação digital, e inovação, em setores que trabalham com altos investimentos em tecnologia, foram objeto de avaliação do grupo, principalmente pelo ainda desafio de integrar mais estas experiências com as questões ambientais, principalmente climáticas. Foi possível perceber que tanto a transformação digital, quanto as oportunidades atreladas ao clima, não estão na estratégia da maioria das empresas, e pareceu raro encontrar um plano, que tenha sido elaborado ou ratificado por um conselho preparado nestes assuntos.

Por fim gostaria de apresentar os principais pontos produzidos pelo grupo, dentro das dinâmicas de conversas que tivemos:

• A governança climática ainda está em estágios iniciais e há mais perguntas do que certezas.

• A maturidade do conhecimento sobre o assunto ainda é baixa, e profissionais especialistas desempenham um papel importante.

• É necessário incorporar incentivos no processo de tomada de decisão e execução.

• A regulação desempenha um papel crucial na governança climática, especialmente no mercado financeiro.

• Fora do mercado de capitais, o debate sobre sustentabilidade é quase inexistente, principalmente onde há pouca regulação e incentivos.

• O olhar sobre o tema ainda é mais voltado para os riscos do que para as oportunidades.

• A matriz de riscos pode ser utilizada para estruturar a discussão, mas ainda é pouco abordada nos comitês de riscos.

• Pequenas e médias empresas têm dificuldades em entender os riscos e oportunidades relacionados à sustentabilidade.

• Inovação é fundamental para o desenvolvimento de novos negócios sustentáveis.

• Setores como óleo e gás e agro enfrentam trade-offs entre segurança alimentar, segurança climática e segurança energética.

• Os conselhos de administração precisam se familiarizar mais com os temas e buscar oxigenação.

• Soluções inovadoras existem, mas é preciso demanda dos conselhos de administração.

Este artigo foi produzido a partir da 5ª edição do IBGC Dialoga que ocorreu no período de março a junho de 2023. A iniciativa se baseia na formação de grupos, a fim de criar espaços de debate entre pares, trazendo temas da governança corporativa em setores específicos. Na temporada, os grupos foram organizados nos setores: Governança Climática, Governança das Famílias Empresárias no Agronegócio, Setor Energia, Setor Financeiro, Inovação e Tecnologia, Sociedade 5.0 e o futuro do trabalho e Startups.

Já há uma nova edição do IBGC Dialoga com inscrições abertas. Já se inscreveu? Para saber mais clique aqui.

Sobre o autor: Tomás Carmona é presidente do Conselho da Climate Ventures, atua como Instrutor do IBGC, membro do Steering Committee do Chapter Zero Brazil e professor de sustentabilidade e com carreira executiva implementando ESG em grandes empresas.

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