Debates sobre o futuro do setor financeiro

Fruto da 3ª edição do IBGC Dialoga 2022, artigo traz insights para os conselhos de administração

  • 25/07/2022
  • Fabio Coimbra
  • Artigo

O IBGC Dialoga é uma iniciativa do instituto, exclusiva para seus associados, com o objetivo de engajá-los por meio de debates qualificados e inspiradores sobre temas relevantes para os agentes de governança corporativa em diversos setores.

Na 3ª edição do IBGC Dialoga, realizada ao longo do primeiro semestre de 2022, seis grupos temáticos estiveram representados: Agro, Empresas de Controle Familiar, Educação, Financeiro, Indústria e Startups e Tech. Cada grupo contou com um instrutor especialista no tema e envolveu cerca de 20 a 30 associados que se reuniram em quatro encontros programados mensalmente, via plataforma Zoom.

No grupo temático Financeiro, profissionais sêniores com ampla atuação no setor financeiro reuniram-se para trocar experiências e debater temas chave que estão moldando o futuro do setor financeiro. A partir das discussões entre os participantes, foram definidos os quatro temas tratados em cada um dos encontros: (I) resiliência cibernética; (II) transformação digital e ativos digitais; (III) ESG e (IV) remuneração. Os encontros foram realizados sob as regras da Chatham House.

No primeiro encontro, buscando identificar temas estratégicos relevantes para a governança de entidades financeiras no Brasil, os participantes e o instrutor definiram os quatro temas mencionados no parágrafo anterior. Na sequência, os participantes trataram de resiliência e riscos cibernéticos sob o ponto de vista do conselho de administração e de seu comitê de riscos. Destacou-se a necessidade de o conselho de administração realizar um diagnóstico de competências em cyber, tanto internamente no colegiado como na organização como um todo, de modo a decidir sobre buscar assessoramento externo. Destacou-se também a importância de construir a competência em cyber internamente à organização bem como reforçar a governança para tratar deste tema.

No segundo encontro, no âmbito do tema transformação digital, os participantes discutiram como um conselho de administração pode adquirir inteligência digital, de modo a fazer frente às inúmeras mudanças em curso no setor financeiro. Dentre os pontos levantados, estão a criação de um comitê de assessoramento ao conselho de administração para tratar do tema; incluir mais de um especialista no tema, no conselho de administração ou no comitê; a criação de um programa de educação continuada para os conselheiros e diretores, além da mudança de mindset.

Dentre os fatores-chave de sucesso para a realização da transformação digital, foram apontados: transformação digital como parte da estratégia de negócios; centralidade no cliente; governança formal (objetivos, programa/projetos, definição/aquisição de competências, mudança cultural, novas formas de trabalho, alinhamento estratégico, emprego de indicadores chave de performance etc.); e utilização da abordagem teste-e-aprendizado.

Dentre os desafios, foram indicados: o aumento do risco cibernético; o trade-off entre agilidade (no processo decisório e no atendimento ao cliente) e as crescentes exigências da regulação; e a retenção de talentos, em particular com expertise em tecnologia. Na sequência, os participantes receberam o convidado Reinaldo Rabelo, atual CEO do Mercado Bitcoin, que apresentou um panorama da evolução do mercado de ativos digitais no Brasil e compartilhou sua experiência como um dos pioneiros neste mercado. Reinaldo e os participantes discutiram sobre os impactos nos modelos de negócio tradicionais trazidos pelas novas tecnologias, por ativos digitais e pela descentralização das finanças; e sobre os principais desafios dos incumbentes nesta nova realidade.

O tema do terceiro encontro foi ESG. Os participantes concordaram sobre a necessidade dos conselheiros de administração se educarem sobre diversidade e inclusão, de modo a mudar o mindset e romper vieses, especialmente diante dos baixos índices de diversidade e inclusão observados no setor financeiro.

Os participantes apontaram um conjunto de ações  que o conselho de administração pode tomar de modo a liderar a pauta de diversidade e inclusão: foco no futuro e em geração de valor, considerando o tema na definição de estratégias, cultura e sucessão;  diagnóstico da situação atual versus a situação desejada; garantir que esta agenda seja perene e não motivada por modismo ou conformidade; assegurar um processo gradual e não disruptivo; supervisão da implementação das iniciativas; promover alinhamento cultural e educação para os colaboradores; criar políticas para romper vieses e as “barreiras invisíveis”; buscar suporte de especialistas externos.

Na sequência, os participantes receberam o convidado Diego Pereira, atual sócio líder em ESG para o setor financeiro da EY, que compartilhou sua experiência atuando em diversos projetos relacionados a ESG em entidades financeiras e enfatizou o papel primordial do conselho de administração como indutor da agenda ESG. Diego e os participantes discutiram medidas para implementar a agenda de diversidade e inclusão, como políticas de equidade, ações afirmativas e programas de recrutamento. Também discutiram sobre mudanças em curso, como a inclusão dos riscos climáticos no gerenciamento integrado de riscos e o aumento de requerimentos ESG na concessão de crédito.

No último encontro, os participantes debateram sobre o tema da remuneração no setor financeiro, cuja regulamentação no Brasil está completando dez anos de vigência. Os participantes discutiram que o tema, anteriormente sujeito somente às tradicionais abordagens de gestão de pessoas, requer também uma abordagem sob o ponto de vista de gestão de risco. Tal fato impacta diretamente os comitês de remuneração, seja na sua atuação a fim de assegurar o alinhamento entre estratégia-risco-performance-remuneração, seja na sua composição de modo a refletir expertise tanto em gestão de pessoas como em riscos.

Discutiu-se também a utilização de métricas não-financeiras, relacionadas, por exemplo, a riscos não-financeiros e a ESG;  além das consequências da arbitragem regulatória, como a perda de talentos, uma vez que fintechs e novos entrantes não estão sujeitos aos mesmos requerimentos que os incumbentes.

Este artigo foi produzido a partir da 3ª edição do IBGC Dialoga que ocorreu no período de março a junho de 2022. A iniciativa se baseia na formação de grupos, a fim de criar espaços de debate entre pares, trazendo temas da governança corporativa em setores específicos. Na temporada, os grupos foram organizados nos setores: Agro, Empresas de Controle Familiar, Educação, Financeiro, Indústria e Startups e Tech. Fabio Coimbra, que assina este artigo foi, instrutor especialista do Dialoga Financeiro, na edição. As opiniões emitidas neste texto são de responsabilidade exclusiva do autor e não necessariamente representam o posicionamento institucional das entidades nas quais o autor atua.

Sobre o autor: Fabio Coimbra atua na área de Fiscalização do Banco Central do Brasil (BCB) desde 2002 com os temas: governança corporativa, gestão de riscos e compliance em entidades reguladas.

Este artigo é de responsabilidade dos autores e não reflete, necessariamente, a opinião do IBGC.

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