Educação e governança: correlação, princípios e conceitos

Veja como os valores de governança se relacionam com as instituições educacionais e com a educação de pessoas

  • 01/08/2022
  • Marco Rossi
  • Artigo

Transparência, equidade, prestação de contas e responsabilidade corporativa são os princípios da governança corporativa, expressos como práticas de instituições que desenvolvem uma gestão íntegra e que respeita os interesses dos stakeholders internos e externos, gerando valor para a organização.

Estes pilares dialogam diretamente com a educação e, sobretudo, com instituições de ensino: pelo compartilhamento e gestão do conhecimento, pela formação de cidadãos e profissionais de excelência, capazes de transformar positivamente a sociedade, pelo fortalecimento do sentido de comunidade, entre outros aspectos tão característicos do setor educacional.

Porém, os princípios da governança, ainda não estão estabelecidos nos currículos das instituições de ensino, tanto nos segmentos da Educação Básica, quanto no Ensino Superior.

Este artigo pretende apresentar, para além das possibilidades da governança corporativa implementada nas instituições educacionais, como os valores se relacionam diretamente, com impactos na formação de indivíduos, gestão de organizações públicas e privadas e na transformação da sociedade.

Educação, governança e estrutura organizacional

Para abordar a implementação dos princípios da governança corporativa, é preciso reforçar que as boas práticas precisam estar refletidas em toda a organização, de forma estruturada na estratégia e na gestão, envolvendo os stakeholders. Caso contrário, a governança corporativa pode ser usada de forma superficial e com objetivos que não correspondem à sua concepção.

Levando essa reflexão para o setor educacional, é preciso avaliar duas esferas: o investimento em educação como política pública, com seus impactos na sociedade como um todo, e a adoção de boas práticas de governança em organizações do setor educacional.

No aspecto do investimento em educação como política pública, considerando os resultados do último PISA (Exame Internacional de Avaliação de Alunos), aplicado pela OCDE, e outros indicadores, como o Índice de Percepção de Corrupção da Transparência Internacional, dentre outros, podemos estabelecer correlação direta entre os top performers e o papel da educação nas práticas dos princípios de governança nos respectivos países.

Essa constatação nos leva a analisar a segunda esfera: os países que se destacam nos indicadores internacionais de qualidade, como o PISA, são aqueles que criaram políticas públicas consistentes e que fomentam o desenvolvimento do senso crítico e da responsabilidade pelo coletivo, por meio, por exemplo, da maior presença de filosofia, sociologia e de soft skills nos programas das instituições educacionais.

Educação, governança e mercado educacional

Como parte desta reflexão, devemos olhar a relação entre educação, governança e mercado, partindo de que quando a governança corporativa é presente por meio de seus conceitos e práticas, as organizações, além de estabelecerem uma gestão íntegra, são reconhecidas a partir de sua excelência.

Os princípios, quando postos em prática, acarretam transformações profundas nas organizações. A adoção plena da governança corporativa nas instituições  educacionais brasileiras, tanto de origem familiar como confessionais, na sua maioria, implica em profissionalização, transformação do processo de tomada de decisão com a instituição de um conselho que adota a diversidade, por meio de profissionais capacitados, independentes,  dentre outros aspectos.

O resultado positivo no aspecto mercadológico obtido pelas instituições que adotam a governança corporativa é um fato, tanto no mercado de ensino superior, hoje com grande concentração de capital externo por meio dos fundos de investimentos, como no ensino básico, notadamente em relação aos grandes grupos educacionais, principalmente os que oferecem sistemas de ensino.

Educação, governança e sociedade

Os conceitos da governança corporativa devem estar presentes na gestão pública e alcançar as diversas esferas da sociedade, com envolvimento da população. Esse modelo está presente, por exemplo, em países como a Finlândia, destaque em diversos índices de desenvolvimento, como a Educação.

Quando esses princípios passam a estar presentes nos planos de educação e, mais especificamente, nos currículos, é possível desenvolver uma política de estado, de forma contínua, com a participação de todos e com resultados significativos.

As mudanças recentes na educação básica no Brasil, principalmente com o Novo Ensino Médio, que estabelece os chamados “itinerários formativos”, geram uma grande oportunidade para a discussão e implementação destes princípios em cada uma das áreas do conhecimento, sejam as áreas voltadas à pesquisa, quanto aquelas que desenvolvem o aluno para o mercado de trabalho.

Já no ensino superior, a introdução dos princípios de governança junto à aproximação do meio acadêmico com o mercado de trabalho pode propiciar uma formação diferenciada aos egressos e contribuir com as instituições que contratam estes profissionais.

Educação e governança corporativa tem um ponto em comum: as pessoas. Apenas por meio da formação de jovens e adultos que possam ter atitudes convergentes com os princípios básicos é que se pode alcançar uma sociedade mais justa e solidária. O exemplo começa nas próprias instituições educacionais, que lentamente, mais de forma contínua, iniciam esta jornada em nosso país.

Este artigo foi produzido a partir da 3ª edição do IBGC Dialoga que ocorreu no período de março a junho de 2022. A iniciativa se baseia na formação de grupos, a fim de criar espaços de debate entre pares, trazendo temas da governança corporativa em setores específicos. Na temporada, os grupos foram organizados nos setores: Agro, Empresas de Controle Familiar, Educação, Financeiro, Indústria e Startups e Tech. Marco Rossi, que assina este artigo, foi instrutor especialista do Dialoga – Educação, na edição.

Sobre o autor: Marco Rossi, superintendente da Fundação de Rotarianos de São Paulo, com especialização em Qualidade em Educação e Neurociências Cognitivas pela Harvard Graduate School of Education.

Este artigo é de responsabilidade dos autores e não reflete, necessariamente, a opinião do IBGC.

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