Veja os destaques da carta de Larry Fink ao mercado

CEO da BlackRock, maior gestora de recursos do mundo, alerta sobre ‘crises silenciosas’, chama atenção para inflação e importância da interação face a face

  • 11/04/2023
  • Angelina Martins e Gabriele Alves
  • Pelo Mundo

Neste ano, mercado financeiro, tecnologia, aposentadorias e riscos climáticos são alguns dos principais temas da Carta anual do presidente, mensagem de Larry Fink, responsável pela BlackRock, a maior gestora de ativos do mundo.

Em 2022, os clientes confiaram à BlackRock para administrar quase US$ 400 bilhões em novos ativos líquidos de longo prazo – incluindo US$ 230 bilhões apenas nos EUA. No ano anterior, a empresa registrou entrada de US$ 540 bilhões, em termos líquidos, o que a fez, pela primeira vez, superar a marca dos US$ 10 trilhões em ativos sob sua administração.

São números que exemplificam dados expostos pelo executivo na carta: “2022 foi um dos anos mais desafiadores para o mercado, na história. Um ano em que ações e títulos caíram pela primeira vez em décadas e os desafios continuam em 2023. Nosso pessoal permaneceu focado em entregar para nossos clientes resultados adequados a cada um de seus objetivos e necessidades”.

Os resultados da BlackRock refletem, segundo Larry Fink, “um forte endosso de nossos clientes às opções que fornecemos, ao desempenho de investimento de longo prazo que entregamos e ao padrão fiduciário que defendemos”.

Larry inicia a carta afirmando estar claro para ele que todos os stakeholders e investidores com quem a empresa opera estão enfrentando muitos dos mesmos problemas de 2022. No documento, a crise no mercado financeiro tem como exemplo a falência do Silicon Valley Bank, fechado pelo Departamento de Proteção Financeira e Inovação da Califórnia, no dia 10 de março de 2023. Ele explica ser essa situação uma clássica incompatibilidade entre ativos e passivos: “Dois bancos menores também faliram. É muito cedo para saber a extensão do dano. Até agora, a resposta regulatória foi rápida e ações decisivas ajudaram a evitar riscos de contágio. Mas os mercados continuam no limite. Os descasamentos entre ativos e passivos serão o segundo dominó a cair?”.

A carta detalha que, a longo prazo, a atual crise bancária dará maior importância ao papel dos mercados de capitais: “À medida que os bancos se tornam potencialmente mais limitados em seus empréstimos, ou à medida que seus clientes despertam para essas discrepâncias de ativos e passivos, eles provavelmente recorrerão em maior número a seus mercados de capitais para financiamento.

Inflação e liquidez
O documento descreve que pode haver mais um efeito dominó: “Anos de taxas mais baixas levaram alguns proprietários de ativos a aumentar seus compromissos com investimentos líquidos – trocando liquidez mais baixa por retornos mais altos. Existe agora o risco de uma incompatibilidade de liquidez para esses proprietários de ativos, especialmente aqueles com carteiras alavancadas".

Sobre a inflação, que continua alta, Larry observa que são limitadas as ferramentas monetárias e fiscais disponíveis para formuladores de políticas e reguladores para lidar com a crise atual, especialmente com um governo dividido nos Estados Unidos. Com taxas de juros mais altas, os governos não conseguem sustentar os níveis recentes de gastos fiscais e os déficits das décadas anteriores.

“Depois de anos de crescimento global impulsionado por gastos governamentais recordes e taxas baixas recordes, o mundo agora precisa do setor privado para desenvolver as economias e elevar os padrões de vida das pessoas em todo o mundo. Precisamos que os líderes governamentais e corporativos reconheçam esse imperativo e trabalhem juntos para liberar o potencial do setor privado”, afirma.

Investimento x Aposentadoria

Aposentadoria também foi tema que mereceu atenção na carta que explanou algumas das questões que impulsionam a crise do setor em níveis global e local. Segundo Larry, a questão previdenciária é uma crise silenciosa. As populações na Europa, América do Norte, China e Japão estão envelhecendo devido ao aumento da expectativa de vida e à queda nas taxas de natalidade. As taxas de fertilidade caíram para uma baixa histórica de 1,7 nascimentos por mulher nos EUA, 1,5 nascimentos na Europa e 1,2 nascimentos na China.

Ao longo do tempo, isso tem profundas implicações para cada um desses mercados. O resultado será uma população trabalhadora menor, crescimento de renda mais lento ou até reduzido. Por isso, ele orienta: “países e empresas precisam buscar um “imperativo de produtividade”. Os países bem-sucedidos serão aqueles com maiores expectativas de vida saudável, maiores taxas de participação na força de trabalho e maiores taxas de produtividade. As empresas bem-sucedidas, que geram retornos duradouros para os acionistas, serão aquelas capazes de encontrar trabalhadores suficientes, engajá-los em altas taxas de produtividade e encontrar clientes suficientes”.

Investimento em interação face a face
Para Larry Fink as sementes de uma reação contra a globalização foram plantadas muito antes da guerra da Rússia: “Em 2017, a  globalização e a mudança tecnológica estavam dividindo as comunidades e impactando os trabalhadores: “As implicações sociais incluíram Brexit, agitação no Oriente Médio e polarização política nos EUA. O isolamento da Covid aumentou esse ambiente carregado e levou a maior protecionismo e polarização”.

Na visão do executivo, a falta de interação “face a face” teve um efeito profundo na humanidade: “As videochamadas não substituem um encontro pessoal ou uma refeição compartilhada. A capacidade de se conectar nunca foi tão importante, seja você o gerente de uma dúzia de pessoas, o CEO de uma corporação multinacional ou o líder de uma superpotência global lutando contra o novo cenário geopolítico. Os funcionários querem se conectar com suas empresas e os cidadãos querem acreditar em seus governos, mas a polarização e a fragmentação corroem a confiança e diminuem a esperança”.

Investimento em Clima
Outro tema enfatizado foi o risco climático como um problema de investimento: “Mudanças na política governamental, tecnologia e preferências do consumidor criarão oportunidades de investimento significativas. Alguns de nossos clientes desejam aproveitar as possibilidades criadas em áreas como investimentos em infraestrutura, que beneficiarão famílias e economias”.


Leia ainda: "10 visões da BlackRock para economia global em 2022".


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