Governança corporativa no agronegócio, a força que vem do campo

Artigo da 5ª edição do IBGC Dialoga discorre sobre a força do campo para a economia do Brasil e o papel dos conselhos

  • 05/09/2023
  • Patrícia Amélia Bueno
  • Artigo

O agronegócio brasileiro desempenha um papel crucial na economia do país, abastecendo mercados globais com commodities agrícolas e produtos agropecuários.

Segundo pesquisa recente da Embrapa, o Brasil produz alimento para suprir 800 milhões de pessoas. A participação do Brasil no mercado mundial de alimentos saltou de 20,6bi de dólares para 100bi nos últimos 10 anos, com destaque para carne, soja, milho, algodão e produtos florestais.

Para discutir os grandes desafios da manutenção dessa liderança no agronegócio e sua perenidade, no primeiro semestre de 2023, um grupo seleto de pessoas ligadas ao setor fizeram parte do IBGC Dialoga, 3ª edição do Agronegócio, que é base para o arrazoado deste artigo.

A adoção de práticas sólidas de governança corporativa torna-se imprescindível para o futuro de sucesso do agronegócio.

Adaptação da governança para o setor agro
O agronegócio possui especificidades. O setor certamente é composto por maioria de empresas familiares, mas com características diferentes de outros setores como a sazonalidade, que impacta nas finanças do setor, necessidade de captação de recursos para financiamento da safra, fluxo de caixa irregular ao longo do ano, matriz de risco com componentes específicos, otimização de investimentos, flutuação de mercado por precificação internacional de commodities, além da cultura do campo ser diferente da “Faria Lima”.

Por isso, a adaptação da linguagem e dos conceitos de governança corporativa, bem como seu processo de adoção, é ação primordial pelos promotores das boas práticas, se quisermos maior compreensão, adoção e aderência por um número maior de agricultores. O tema precisa ser customizado.

Com a customização, a comunicação deve fluir de forma mais efetiva, auxiliando no entendimento claro e fácil pelo empresário rural.

A governança não é uma ciência de adesão cartesiana, a abordagem precisa respeitar o momento de cada família e do negócio, fundamental para que haja a melhoria constante, até que o setor passe a abraçar essas práticas de maneira voluntária, e não apenas como resposta a desafios pontuais, como eventuais questões de sucessão.

Papel do conselheiro no agronegócio
O conselheiro possui um peso importante no direcionamento do negócio, com o entendimento de que o papel dessa persona é ser o advisor (orientador) do que precisa evoluir a curto, médio e longo prazos. O conselho é um time focado em estratégia e prosperidade do negócio e quando a formação é feita com perfis complementares e amplos, o poder de contribuição pode ser espetacular. Ainda, comitês técnicos de assessoramento ampliam o leque de soluções para desafios diversos e na geração de valor para o negócio, como a avaliação de potenciais novos produtos e serviços.

A função do conselheiro não é limitada e expor suas opiniões, mas trabalhar no sentido de  criar relacionamento com pessoas chaves, aprofundando tanto quanto possível seu conhecimento sobre os diversos aspectos do negócio, compreendendo seus reais desafios. Esse olhar externo possui e gera alto valor.

Educação e comunicação: ferramentas para a mudança
A educação emergiu como uma ferramenta-chave para sensibilizar os envolvidos da cadeia do agronegócio sobre a importância da governança. O aprendizado através de exemplos práticos, meios formais de educação e o estímulo por institutos especializados, como o IBGC e profissionais da governança é essencial para a ampliação ao longo dos anos da maior atenção e acima de tudo do reconhecimento do valor do tema para o negócio.

A melhoria da comunicação entre os atores da cadeia é fundamental. A capacidade de ouvir ativamente o agricultor, entender suas dores e quais urgências devem ser trabalhadas e de se comunicar de forma adequada e efetiva permitirá a disseminação dos princípios de governança e a compreensão de suas vantagens. As redes sociais podem exercer um impacto positivo nas mensagens de esclarecimento do que é o setor para o público em geral, mas também no entendimento prático e baseado em ciência para o empresário rural, do potencial transformador que a governança tem para o seu negócio.

Dentro do espectro comunicação/educação, a perspectiva geracional tem trazido novas discussões para os negócios familiares rurais, não apenas do ponto de vista de sucessão, mas as novas gerações bem instruídas trazem para casa temas de evolução na gestão, inovação, discussões sobre aspectos ambientais e sociais. A transição geracional é sempre complexa, mas existe um sinal de maior profissionalização do que a que vemos hoje e que trouxe o agro para o patamar de liderança. Novos desafios, além da competência de maximizar produtividade, já são parte do negócio, como atender as demandas globais específicas, a exemplo da restrição europeia sobre a compra de produtos provenientes de áreas desmatadas, que possui diretrizes distintas da lei brasileira. Nesse ponto a governança tem um grande valor de contribuição através da criação de melhores processos e controles que entrega transparência necessária para atender um mercado global exigente.

A governança corporativa no agronegócio brasileiro é uma questão crítica para o sucesso contínuo desse setor vital para o Brasil e do ponto de vista de segurança alimentar, para o mundo. A adaptação do discurso sobre a governança atendendo às particularidades do agronegócio, o foco em educação, o investimento em comunicação e o trabalho com as novas gerações são pontos chave para reconhecimento da importância da governação e sua maior adesão. A abordagem colaborativa entre diferentes partes interessadas da cadeia, como as próprias empresas familiares, cooperativas, distribuição, academia, clientes é essencial para a construção de um futuro sustentável e próspero para o agronegócio brasileiro. O investimento na implementação eficaz da governança não apenas fortalecerá as empresas e o que poderá ser seu futuro, mas contribuirá para uma imagem positiva do setor no cenário nacional e internacional.


Autora: Patrícia Amélia Bueno, instrutora do IBGC Dialoga Governança das Famílias Empresárias no Agronegócio, 5ª Edição 2023.

Este artigo foi produzido a partir da 5ª edição do IBGC Dialoga que ocorreu no período de março a junho de 2023. A iniciativa se baseia na formação de grupos, a fim de criar espaços de debate entre pares  trazendo temas da governança corporativa em setores específicos. Na temporada, os grupos foram organizados nos setores: Governança Climática, Governança das Famílias Empresárias no Agronegócio, Setor Energia, Setor Financeiro, Inovação e Tecnologia, Sociedade 5.0 e o futuro do trabalho e Startups.

Para saber mais clique aqui. 

Este artigo é de responsabilidade dos autores e não reflete, necessariamente, a opinião do IBGC.

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