O crescente fortalecimento da governança ESG nas empresas

Para Sonia Consiglio, o preparo do conselho para lidar com questões ambientais, sociais e de governança é chave para o avanço desta agenda 

  • 13/09/2023
  • Sonia Consiglio
  • Artigo

Quando é que um tema ganha a atenção da liderança? No momento em que se percebe o seu valor agregado. No tocante à agenda ESG, é visível o aumento da sua visibilidade e importância nas mesas de decisões nos últimos anos. Vamos entender esse movimento.

Há cerca de cinco ou dez anos, os assuntos ambientais e sociais eram tratados como nicho, quase um mundo paralelo. Poucas empresas entendiam sua relevância e os traziam para discussões mais estratégicas. Essa pauta era tocada pelo time de sustentabilidade, com mais ou menos apoio e validação da gestão e envolvimento de outras áreas.

Esse cenário começa a mudar com o crescente interesse e pressão dos investidores, puxados pelos europeus, e tem seu ponto de virada com a Covid-19. Costumo dizer que, pela dor de uma pandemia, percebemos que o mundo é interligado: uma questão de saúde/social, relacionada ao meio ambiente, colocou a economia em lockdown. Os líderes foram convocados a entender esse profundo contexto e a atuar de forma diferente. Nunca os conselhos se reuniram tanto e refletiram sobre pessoas e meio ambiente. A sigla ESG, mais usada no meio financeiro até então, ganha projeção, visibilidade, espaço e relevância. E, com isso, entra no radar da alta liderança.

As pesquisas comprovam. Segundo o estudo global “Sustainability in the Spotlight: Board ESG Oversight and Strategy”, do Diligent Institute e Spencer Stuart, com 590 conselheiros, 20% dos entrevistados disseram que raramente ou nunca discutiam ESG antes da pandemia. Em 2022, esse dado caiu drasticamente, para apenas 4%. Já o percentual dos que falavam de ESG em todas ou quase todas as suas reuniões mais que dobrou, indo de 15% para 34%.

Ok, atrair a atenção e, consequentemente, entrar na pauta é absolutamente fundamental. Mas não basta. Se os conselhos não estiverem aptos a aprofundar o tratamento das questões ESG, questionar e sugerir caminhos, correm o risco de tratar o tema de forma burocrática e apenas numa esfera informativa. É preciso preparo e conhecimento; é preciso letramento para atuar diligentemente nesta esfera.

Como sempre gosto de ver o lado meio cheio do copo, considero muito positivo já estarmos falando dessa necessidade de capacitação. Mais: os próprios conselheiros/as estão apontando essa carência, como consta em uma pesquisa realizada pela Egon Zehnder em 2022 com 127 empresas globais de grande porte. “Expertise em ESG” é indicada por 21% dos respondentes brasileiros como “O que ainda falta nos conselhos”. Nesse mesmo estudo, o Brasil se destaca no entendimento do ganho de importância dessa agenda: 71% dos brasileiros consultados pela pesquisa dizem que ESG é o “principal tópico que deve tomar mais tempo dos conselhos no futuro” – contra 50% das demais regiões.

Bom, e como avançamos nesse letramento do conselho? Há vários caminhos, desde sessões com especialistas, indicações de leituras, conversas qualificadas até o estabelecimento de um comitê. E qual é a função de um comitê de assessoramento? É fácil entender: como o nome diz, é apoiar tecnicamente o colegiado para a melhor tomada de decisão em determinados temas. Se ESG se tornou algo obrigatório, é necessário ter um órgão específico para isso.

Aliás, uma dúvida comum é “transversalidade do ESG X ter um comitê próprio”. Sim, as questões ambientais, sociais e de governança são comuns a todas as áreas e devem ser gerenciadas de forma transversal, em seus impactos e oportunidades. Mas essa é uma jornada a ser percorrida. Até que essa abordagem estratégica se estabeleça (e estamos falando aqui de mudança de cultura na essência), é preciso ser intencional. Um dia, não precisaremos mais de comitês, índices ou relatórios ESG... Um dia, não usaremos mais essa sigla. Trabalho para isso.

Até lá, temos que nos apoiar em estruturas e instrumentos, como os comitês ESG, para fazer a transição. Eles fortalecem a governança das empresas e são um diferencial competitivo em um cenário de “múltiplas crises e fragmentação mundial”, como bem definido pelo Fórum Econômico Mundial, no encontro de Davos deste ano.


Sobre a autora: reconhecida pelo Pacto Global da ONU como SDG Pioneer – profissional referência na promoção dos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS) da Agenda 2030, Sonia Consiglio é conselheira de administração, especialista em sustentabilidade, palestrante, professora e escritora.

Este artigo é de responsabilidade dos autores e não reflete, necessariamente, a opinião do IBGC.

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