Como será a agenda da governança em 2022?

Veja algumas das tendências e desafios globais que devem se destacar  na mesa dos conselhos este ano

  • 21/01/2022
  • Gabriele Alves
  • Pelo Mundo

A governança vem sendo transformada pela pandemia de Covid-19 nos últimos dois anos e a luta, que marcou o último período para conter as infecções, continuará em 2022. Mas de acordo com as tendências do Board Agenda para o novo ano, a pandemia não será a única causa das novas transformações que estão por vir.

Entre algumas das mudanças que a governança deve acomodar em 2022, está a regulamentação dos fatores ESG (ambientais, sociais e de governança) que terá novas resoluções, sobretudo na Europa. No Reino Unido, 2022 deve trazer reformas significativas para os auditores e a Bolsa de Valores de Londres passará a adotar ações de classe dupla.

Modelos de negócios digitais, segurança cibernética, representação de gênero e minorias étnicas, negócios e direitos humanos também são assuntos que deixarão sua marca. Veja a seguir a seleção que o Blog IBGC realizou de alguns dos principais temas que estarão na agenda da governança neste ano que se inicia:

Novas regulamentações

Há códigos e leis que estão ou sendo votados ou definidos para remodelar os cenários de governança. Entre os mais significativos estão os movimentos em andamento em Bruxelas como a Diretiva de Relatórios de Sustentabilidade Corporativa (Corporate Sustainability Reporting Directive, a CSRD) e a Diretiva de Governança Corporativa Sustentável (Sustainable Corporate Governance, a SCG).

A CSRD trará mais normas aos relatórios não financeiros a mais empresas do que antes – até 50.000 – e determinará que as divulgações sejam obrigatórias, algo que será uma grande mudança para muitas organizações que operam na Europa. Apenas alguns países da União Europeia, incluindo França e Espanha, já têm implementado a CSRD. Para 2022, a expectativa é que isso seja uma realidade em todos os países do bloco.

Enquanto isso, segundo o Board Agenda, o SCG é um dos movimentos mais aguardados para avançar em 2022, uma vez que estabelece e introduz regras para incorporar a sustentabilidade nas estratégias de negócios de longo prazo e incluir novas funções aos diretores corporativos, bem como regras de due diligence sobre aspectos ESG em toda cadeia de suprimentos.

Relatórios climáticos obrigatórios

No Reino Unido, os líderes políticos apostaram muito no uso obrigatório da estrutura de divulgação climática do Task Force on Climate-Related Financial Disclosures (TCFD) e que se tornará obrigatória este ano para grandes empresas privadas e listadas. As empresas também começam a preparar seus planos para a transição para uma economia “net zero”, que deve se tornar obrigatória em 2023.

Além disso, a recém encerrada Cop-26, que aconteceu em Glasgow, em novembro de 2021, trouxe o lançamento do International Sustainability Standards Board (ISSB), um projeto para desenvolver padrões globais para divulgações não financeiras.

Leia também: Padrões de sustentabilidade: veja recente divulgação da IFRS Foundation

Comitês de auditoria

As empresas, e especialmente os membros do comitê de auditoria, podem esperar que 2022 traga a reforma da auditoria à tona após anos de discussão, principalmente depois do colapso da empresa britânica de construção e logística Carillion, em 2018. Já há um documento no Reino Unido, que foi muito debatido durante grande parte do ano passado, contendo centenas de propostas em circulação.

A proposta pode trazer uma reestruturação do regulamento de auditoria e do mercado, novas regras para os auditores e potenciais sanções para membros de comitês. Outro item a ser observado pelo Board Agenda é a introdução de ações de classe dupla (dual class shares) para empresas listadas na Bolsa de Valores de Londres.

A Hill Review, publicada em março, recomendou avançar com ações diferenciadas como forma de incentivar grandes empresas de tecnologia a se listarem listadas em Londres (Hong Kong, Cingapura e EUA têm se mostrado mais atraentes como destino para líderes de tecnologia). O debate aumentou desde então, mas parece que 2022 será o ano em que as medidas serão resolvidas.

Diversidade nos conselho

O ano de 2021 trouxe alguns resultados positivos sobre a questão de diversidade, mas ainda há muito a ser feito. Investidores alertaram ao longo de 2021 que votarão contra presidentes de comitês que não melhorarem a diversidade étnica. Este ano haverá uma nova consulta feita pela e Financial Conduct Authority’s sobre novas regras de divulgação para relatar a composição de gênero e etnia de conselhos e alta administração em empresas listadas, bem como o progresso em relação às metas de diversidade.

Segundo o Board Agenda, quando a Cop-26 foi lançada, o grupo de campanha do Sustainability Board Report revelou pesquisas que concluíram que as mulheres estavam conduzindo a agenda ESG em muitas empresas por meio da presidência de comitês importantes. Isso não vai passar despercebido em 2022.

Os conselhos que não responderem às preocupações ESG podem se especializar em mais propostas de acionistas e os investidores ativistas podem começar a “alavancar” a questão em suas campanhas. No entanto, o entendimento completo entre conselhos e investidores não é isento de desafios.

Tecnologia e cibersegurança

A tecnologia terá um papel cada vez mais importante em 2022: seja em blockchain, inteligência artificial ou simplesmente usando plataformas web para se conectar com clientes e fornecedores, os negócios impulsionados pela TI vão levantar também suas próprias preocupações. Adicionalmente a essas preocupações está a segurança cibernética.

Em 2022, é esperada no Reino Unido a Estratégia Cibernética Nacional, que deve enfatizar a necessidade de governo, empresas e academia trabalharem juntos no tema.

A governança 2022 em um cenário multidimensional

Com todas essas transformações a caminho, a governança não é mais dominada por questões de “conformidade” com algumas regras. No artigo do Board Agenda fica claro que essa ainda é uma característica, mas o cenário de governança tornou-se multidimensional, exigindo novas habilidades e conhecimentos. A adaptação ao ESG é vista por muitos como uma mudança de paradigma no próprio capitalismo.

Clima, diversidade, força de trabalho, remuneração dos executivos, ações de classe dupla, o papel da tecnologia e seus riscos associados, direitos humanos e a questão de auditoria de longa data serão alguns dos destaques neste ano. Os membros do conselho devem estar preparados para esse processo de ajuste e para considerar todas as partes interessadas, não apenas os acionistas.

Fonte consultada: Governance 2022: multidimensional landscape brings board challenges

Confira as últimas notícias do Blog IBGC