“A integração do ESG à estratégia do negócio é uma jornada evolutiva”

Para conselheira Cátia Tokoro, coordenadora do Capítulo Rio de Janeiro do IBGC, letramento no tema é primeiro passo aos conselhos

  • 15/10/2021
  • Gabriele Alves
  • Bate-papo

Os comitês de sustentabilidade são uma importante iniciativa para integrar os critérios ambientais, sociais e de governança à estratégia de negócio das empresas. Entre suas funções, destaca-se o assessoramento aos conselhos, por meio de avaliações e propostas que ofereçam subsídios teóricos e práticos acerca dos temas específicos.

Neste contexto, IBGC e a Global Reporting Initiative (GRI) se juntaram para oferecer o curso “Comitê ESG: como fortalecer a pauta estratégica do conselho” que posiciona os comitês ESG como instâncias estratégicas no assessoramento ao conselho em pautas ESG e órgãos-chave para a melhor tomada de decisão. Trata-se de um curso especialmente para conselheiros de administração que sejam entusiastas da instauração de comitês ESG ou que tenham sido convidados a compor essas instâncias. Também é voltado para outros membros de comitês, além de lideranças e profissionais relevantes no desenvolvimento da agenda ESG da organização.

Atento à importância das experiências práticas deste universo, o Blog IBGC conversou com a conselheira Cátia Tokoro, coordenadora do Capítulo Rio de Janeiro e membro das Comissões de Inovação e Saúde do IBGC. Cátia compartilhou a relevância do comitê e suas dinâmicas e alertou que a integração da agenda ESG à estratégia do negócio é uma jornada em constante evolução. Veja a entrevista completa a seguir:

BLOG IBGC: Qual a importância de um Comitê ESG nas empresas? Que diferenciais você apontaria?
Cátia Tokoro: O conselho, dado seu dever fiduciário, precisa tomar decisões de forma diligente, portanto, dados e informação são fatores críticos de sucesso. Se as informações ESG não chegarem corretas e/ou não forem analisadas com mais profundidade e consistência, o conselho pode desconsiderar alguns riscos e oportunidades nas tomadas de decisões que talvez não sejam tão relevantes no curto prazo, mas que podem ser potencialmente impactantes no médio e longo prazos. Neste sentido, os comitês de sustentabilidade são uma importante retaguarda para conselheiros e conselheiras na integração dessas variáveis à estratégia do negócio. Os comitês assessoram os conselhos com pareceres, opiniões, propostas e recomendações em seus temas de expertise. É recomendável que sejam coordenados por um conselheiro(a) e que sejam compostos por outros membros do conselho e especialistas no tema. A pesquisa GRI com IBGC apontou, por exemplo, cinco conclusões importantes: (1) os fatores sociais, ambientais e de governança são um risco no nível do conselho, (2) o conselho deve fazer uma gestão de risco holística, (3) é responsabilidade do conselho inserir as questões ESG na na visão estratégica dos negócios, (4) a comunicação com as partes interessadas é fundamental para a transmissão do compromisso da empresa com a criação de valor a longo prazo e (5) é necessário ter uma visão integrada na definição de indicadores. Em resumo, melhores decisões serão tomadas se os fatores de sustentabilidade forem considerados de forma holística e profunda pelos conselhos, que podem contar com o assessoramento de um comitê ESG.

Que resultados positivos nota-se com a implementação de um Comitê ESG? E quais os desafios ainda presentes?
O comitê ESG deve ter como um dos objetivos, engajar a alta administração para a importância estratégica da agenda ESG e para a longevidade dos negócios. Ele é um grande aliado para o maior entendimento do conselho sobre riscos emergentes não captados ou até subestimados pelas matrizes convencionais de avaliação. Esta mesma dinâmica se aplica a inovações e novas oportunidades de negócio. Como contribuições deste órgão podemos citar o fomento ao pensamento mais integrado na companhia, corroborando decisões baseadas no equilíbrio de aspectos econômico-financeiros, socioambientais e de governança, a avaliação de assuntos ou drivers de maior tração na companhia capazes de introduzir as variáveis de sustentabilidade à estratégia do negócio, além das provocações como a criação e/ou atualização do propósito da empresa. Há ainda incentivos ao desenvolvimento de produtos e serviços mais sustentáveis, às parcerias com startups e inovação aberta, aos novos modelos de negócios, o suporte à emissão de títulos verdes, sociais e sustentáveis, a recomendação de metas relacionadas a aspectos ESG para os executivos, a partir da construção de indicadores de sustentabilidade e as discussões transversais com comitês de gestão de riscos, de capital humano, de comunicação e divulgação de resultados. Todos esses contribuem com o conselho em prol dos melhores interesses da companhia, da sociedade e do meio ambiente.

Estamos às vésperas da Cop-26 e, recentemente, o relatório IPCC divulgou que muitas mudanças climáticas serão irreversíveis. Como os conselhos podem agir neste contexto?
No início de agosto o IPCC (Painel Intergovernamental sobre Mudança do Clima) divulgou o relatório sobre mudanças climáticas com embasamento da ciência, que aponta risco considerável de descumprimento dos objetivos do Acordo de Paris. As  mudanças climáticas são uma realidade, ampliam nossos desafios, incluindo os relacionados a desigualdades sociais, mas contê-las  não  é  trivial. Trazem dilemas, requerem forte articulação entre diferentes stakeholders e demandam significativos  recursos  humanos,  econômicos  e  tecnológicos. Este é um tema relativamente novo nos conselhos e o primeiro passo é o letramento, inserindo esta discussão na agenda. Na sequência, a elaboração de um plano de ação com consequente monitoramento, métricas e metas, que devem ser baseadas em dados científicos, science based targets, sendo este fluxo retroalimentável e de melhoria contínua.

Na sua avaliação, o tema ESG está na agenda dos conselhos como deveria?
Alinhada à Agenda Positiva de Governança e aos seis pilares que a apoiam: (1) ética e integridade, (2) diversidade e inclusão, (3) ambiental e social, (4) inovação e transformação, (5) transparência e prestação de contas e (6) conselhos do futuro, cada vez mais o tema ESG está presente nas pautas dos conselhos. A integração do ESG à estratégia do negócio é uma jornada evolutiva, sendo o G o elo que conecta o E e o S. Em carta de fevereiro deste ano, Larry Fink, CEO da BlackRock, reforçou a importância dos conselheiros terem fluência em risco climático e transição energética para que todo o colegiado e não apenas um conselheiro expert, possam supervisionar de forma apropriada os planos e metas da companhia. E estudo recente da ISS Governance QualityScore, ratifica o crescimento de métricas ESG nas remunerações dos Executivos e Executivas tanto nos EUA, quanto na Europa. Além disso, em pesquisa realizada pela EY este ano sobre as prioridades dos Conselhos de Administração no Brasil, Argentina e Chile, ESG aparece como o terceiro aspecto mais importante da agenda de 2021, sendo apontado como prioritário por 48% dos pesquisados.

O curso “Comitê ESG: Como fortalecer a pauta estratégica do conselho” pode auxiliar o participante a ter uma visão mais holística e sistêmica das questões ESG, preparando-o para o novo contexto de negócios, no qual questões ambientais, sociais e de governança ganham cada vez mais relevância na tomada de decisões estratégicas e de investimentos. Saiba mais aqui