Implicações da inteligência artificial na atuação dos conselhos

Segundo o Prof. Ricardo Vargas, há riscos para os profissionais em decisões futuras, porque muda o seu trabalho e a pauta a discutir

  • 29/05/2023
  • Angelina Martins
  • Bate-papo

Muito se fala em Inteligência Artificial (IA), seus impactos, desafios e oportunidades para a sociedade e o mundo dos negócios. Surgem questões como a atuação dos conselhos de administração diante dessa nova realidade, os princípios éticos e a responsabilidade na utilização das novas tecnologias.

Para conversar sobre este tema, o Blog IBGC convidou o professor do programa de formação de conselheiros do IBGC, Ricardo Vargas, líder em operações globais, gerenciamento de projetos e crises e transformação de negócios, e fundador e diretor da Macrosolutions, empresa de consultoria com operações internacionais. Acompanhe!

Blog IBGC: Quais as implicações da IA na sociedade?
Ricardo Vargas: Estamos vivendo uma das maiores transformações da nossa sociedade. Acho que, infelizmente, pouca gente tem ideia da dimensão do que está acontecendo. Muitas vezes, as pessoas estão olhando e achando assim: “Pedi uma informação no ChatGPT e ele não respondeu perfeitamente, então não funciona”. Esquecem que a base da plataforma é recém-nascida. Estamos falando de uma tecnologia que em pouco tempo se tornou pública, útil; de algo extremamente novo, apesar de estudado há muito tempo; de uma tecnologia com adoção maciça praticamente por todos os segmentos da sociedade, inclusive no trabalho do conselheiro. É uma mudança enorme, estamos vivendo uma disruptura em várias profissões e negócios. Não quero que as pessoas me entendam mal, mas é uma mudança em que muita gente vai encontrar nichos para explorar. Não quero ser cegamente otimista, tenho minhas reservas e preocupações, afinal, se a sociedade não souber usar a IA para o bem, podemos ter muitos desafios pela frente.

Como ficam os conselhos, diante da  IA?
Sou pragmático em afirmar que no ambiente de IA não é sustentável um conselho se reunir mensalmente, bem como o conceito de balanço anual, porque as respostas serão praticamente instantâneas. Não sei como será a auditoria, que trabalha com amostragem pois hoje existem computadores que avaliam bilhões de informações em segundos. Uma coisa que falo para os conselheiros é que não podem ter medo de integrar, que jamais desprezem o que está vindo, pensando que é mais uma bolha. Pode parecer, mas a  criptomoeda não acabou e o metaverso tem a desvantagem de ser custoso. Para entrar no ChatGPT é preciso somente uma conta gratuita. Praticamente todas as startups do mundo estão voltadas à IA e as pessoas, os conselhos precisam entender que isso é um evento de uma disruptura tremenda. Certa vez, quando eu participava do IBGC Dialoga, um dos colegas cenarizou em uma reunião um problema para o ChatGPT e pediu um parecer legal sobre ele. A resposta foi extremamente clara, citou leis, jurisprudências, tudo em termos de cinco segundos. Não foi uma resposta 100% correta, mas uns 85%. Tendo em vista que um aplicativo de IA é lançado a cada sete minutos no mundo, essa diferença será superada em seis meses, um ano.

São muitos os desafios para os conselhos?
O conselheiro que não está pensando nesse assunto, está em risco de se tornar incapaz de tomar decisões no futuro. Isso leva a entender que muda o seu trabalho e a pauta a discutir. As análises serão mais rápidas, haverá novos concorrentes, projetos que vão gerar disruptura total na sua cadeia de fornecimento, no valor agregado de seu produto, de seu serviço. Estou numa jornada para conscientizar as pessoas em relação ao tema, praticando, conversando com conselhos para que conheçam a IA e o ChatGPT, em especial, que explorem as ferramentas. O conselheiro não deve ser pessimista, tem que ser cuidadoso, porque o tema é desconhecido de todos nós. As máquinas vão superar nossa capacidade cognitiva muito breve e já são melhores que a gente em muitas coisas. As empresas precisam se adaptar e se ajustar para ter condições de saírem vitoriosas e com vantagem competitivas.

Isso sugere a reinvenção do trabalho?
Para os conselheiros vejo duas dimensões: o trabalho como conselheiro será extinto? A IA vai atuar como um conselheiro? Da maneira como os conselhos existem hoje não, mas a evolução é tão rápida e pode ser que daqui a pouco isso mude e se pense “há necessidade de um conselho com 10 pessoas? Por que não 5 e mais 5 de uma plataforma?”. Vem a 2ª colocação: como será a questão fiduciária da IA? Volto a dizer que a sociedade está atrasada, a legislação não acompanha. Veja, há menos de um mês, os EUA começaram a testar o caça F16, sem piloto e utilizando IA. Pergunta: se posso por um piloto remoto, por que não posso ter um conselheiro na IA? Estou só desafiando nossa mente.

Segurança da informação é uma grande preocupação de empresas e pessoas. Como se proteger?
A arma é forte demais e a capacidade de dano é grande. Existem pequenos grupos querendo usá-la para o mal e podem gerar transtorno. Hoje, por exemplo, a maior parte dos  hackers está muito por dentro da plataforma ChatGPT e usa a engenharia de prompt para que o chat revisite a informação correta e crie conteúdos para gerar resultados indesejados ou fora do contexto desejado. Com essas plataformas poderosas e com o passar do tempo, consegue-se criar uma pós-verdade. Tenho quase trinta anos de trabalho na área e nunca vi uma ferramenta de IA com tanto poder. Precisamos de ferramentas e lideranças. Nesse quesito, a postura ética do conselheiro é muito importante - é o papel da integridade do conselheiro em intermediar a discussão visando o bem. Sou da área de projetos e afirmo ser preciso que os desenvolvedores de plataformas pensem e criem soluções em segurança. É preciso o uso consciente da  sociedade civil e das empresas, a regulação pelo governo e a auto regulação. A regulação precisa acontecer com a velocidade necessária e esse é um desafio, porque temos um mundo velho e uma tecnologia nova. O modo como a sociedade se organiza é analogico, enquanto a tecnologia evolui em velocidade atômica.

Como fica a questão da confidencialidade de dados?
Trata-se de uma plataforma grátis e pública. O ChatGPT é gratuito e público e a Microsoft está investindo em servidores dedicados a pegar todo o potencial do chat e usar em dados e informações. Isso muda o jogo, porque não haverá problemas de vazamento de informação. A Microsoft tem hoje o ChatGPT disponível na  Azure OpenAI Service, um modelo avançado de IA respaldado pelas capacidades exclusivas da supercomputação e inovação corporativa. Google, Amazon, todos terão.


No dia 6 de junho, o IBGC promove o fórum on-line “Inteligência Artificial nos Conselhos”, exclusivo para profissionais certificados.

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