“Governance officer pode funcionar como consciência do conselho”

Para Bia Kowalewski, da comissão de Governance Officers do IBGC, novo nome valoriza a governança

  • 14/10/2020
  • Ana Paula Cardoso
  • Bate-papo

Em recente debate realizado pelo IBGC e difundido pelo canal no YouTube IBGC Conecta, foi discutida a mudança na nomenclatura da função de secretário de governança para Governance Officer. Presente no debate, Loren Wulfsohn, responsável mundial de política e engajamento de stakeholders, governança corporativa e secretariado no HSBC, disse que esta mudança está longe de ser um preciosismo. 

Para Loren, trata-se, sim, de um indicador de que o cargo atingiu um grau de valorização tal dentro das empresas a ponto de levar as organizações a repensarem a adequação do nome. Bia Kowalevski, membro comissão de Governance Officers do IBGC, advogada de formação e sócia e responsável por governança corporativa na WFaria Advogados vai além. “Antes de tudo, este ajuste de nome vem para consertar um erro do passado”, disse Bia. 

O nome anterior era uma junção de dois termos em inglês corporate secretary e governance. Mas de acordo com a advogada, denominá-lo como secretaria de governança acabou gerando disfunções. “Havia quem não reconhecesse a senioridade do cargo apenas por conta do nome”, acrescentou Bia.

Em bate-papo com o Blog do IBGC, a membro comissão de Governance Officers do IBGC contou como foi a evolução do cargo e como o novo nome deve refletir a real responsabilidade desta função na implantação das melhores práticas de governança corporativa nas organizações.

IBGC. O que faz, na prática, a diferença na mudança de nome de secretário de governança para Governance Officer?

Bia Kowalewski:   O nome acabava gerando uma maior dificuldade de reconhecer a importância estratégica do cargo. Muitos dos profissionais exercendo o cargo, antes chamado de secretário de governança, contam histórias de terem sido confundidos com um assistente administrativo executivo, em vez de serem reconhecidos como alguém que desempenhava uma função profissional sênior no desenvolvilento da governança na organização. Então, chamar agora de Governance Officer é reconhecer também o profissional. O novo nome vem para, antes de tudo, consertar esse equívoco. 

E se a mudança valoriza o cargo, quais são os impactos da valorização da função na aplicação de boas práticas de governança nas empresas?  

O primeiro impacto é a aquisição de consciência do real papel da governança como um todo nas empresas. É o que o termo em inglês awareness traduz bem. Mas, claro, não se começa dando cavalo de pau, de forma radical.  Como tudo na governança, Governance Officer não é um terno que sirva para qualquer tamanho de empresa. A função é taylor made mesmo, de acordo com o nível de evolução de governança que a empresa está. Mas vale para a empresa mensurar o nível de sua governança olhando para o profissional que exerce o cargo. Porque é ele quem conversa com os comitês, conselhos, que faz a ata, as agendas, que aponta se as tomadas de decisão estão adequadas com a parte regulatória na qual a empresa precisa estar inserida etc. O que não pode mais é acontecer o que já ocorreu durante muitos anos, quando achavam que cabia à secretaria da governança providenciar o catering da reunião.

Como foi a evolução do cargo no Brasil (o que já avançou e o que ainda falta)? 

Ainda falta entender a qualificação da função. Também é preciso frear situações de conflito de interesse, como, por exemplo, colocar advogados como Governance Officer, apenas para defenderem interesse do controlador. Eu mesma já atuei assim e isso é um desserviço à governança.  Por outro lado, atualmente os membros do conselho entendem melhor os diversos papeis e diversas atribuições do Governance Officer. E começam a entender e a dar palco para esta função. Uma pessoa qualificada vai exercer o corpo a corpo com a diretoria, vai levar o presidente do conselho de administração a ganhar tempo e facilitar a implantação de agenda de estratégias.   

Além da mudança de nome, quais outros passos podem ser dados para a valorização dos Governance Officers?

Entendê-lo com um órgão de governança que atende a todos os sistemas de governança. E o IBGC está trabalhando na revisão da jornada de cursos para a certificação deste profissional. Uma das funções do Governance Officer é ser o braço direito do presidente do conselho, para ele pensar melhor em estratégias.  Uma pessoa que tem a função de ser um intermediador entre conselho e diretoria executiva pode atuar como um viabilizador, alguém com capacidade de olhar todas as frentes e com independência até para apontar críticas. E, nesse sentido, funciona como uma espécie de Grilo Falante, podendo também fazer o papel da consciência do conselho de administração.


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