Governance Officer: “esforço é grande para conscientizar o mercado”

Para Sérgio Lage da Prodemge novas atribuições do GO refletem maturidade que a governança atingiu nos últimos anos

  • 11/11/2021
  • Gabriele Alves
  • Bate-papo

Qual é o papel do Governance Officer no dia a dia das empresas? Apesar de atuar há muito tempo junto aos órgãos de governança das companhias, as interfaces de trabalho deste profissional têm sido marcadas por essa pergunta nos últimos tempos. Isso porque o escopo de trabalho no passado cede espaço agora para o exercício de atividades mais amplas e estratégicas.

O GO – antes secretário de governança – passa a ser não só o responsável pelo assessoramento das instâncias administrativas, mas também o intermediador entre o conselho administrativo e outros órgãos de tomada de decisão, sendo o profissional que ajuda a companhia a se conectar, de forma estratégica e com visão holística, às melhores práticas de governança para a empresa.

"O secretário de governança de tempos atrás se reconfigurou e deixou de ser visto como um assistente pouco apreciado ou mesmo não reconhecido”, destaca Sergio Lage, assessor de governança corporativa da Companhia de Tecnologia da Informação do Estado de Minas Gerais (Prodemge), ao se referir as principais mudanças das atribuições deste profissional ao longo do tempo.

Ao Blog IBGC, Sérgio contou como esse profissional atua em prol do bom funcionamento do sistema de governança, quais são os desafios, seus novos papéis e como ele contribui para o desenvolvimento de negócios sustentáveis, sobretudo neste momento em que a relevância da jornada dos critérios sociais, ambientais e de governança (do inglês environmental, social and governance) está em evidência. Confira a seguir o bate-papo completo.

BLOG IBGC:  Você poderia começar contando um pouco da sua trajetória enquanto assessor de governança corporativa e sua relação com a área de Governance Officer?
Sérgio Lage: Fui designado a responder pela área de Governança Corporativa da Companhia de Tecnologia da Informação do Estado de Minas Gerais e, desde então, coordenei o trabalho de diversos profissionais envolvidos na estruturação e aprimoramento das políticas e procedimentos da empresa relacionados ao tema. Hoje, a expectativa é de que todo esse trabalho ganhe amplitude, tendo como principal componente o apoio dos administradores em observar as melhores práticas de governança e seu compromisso em resguardar a organização e seus agentes.

O que o Governance Officer faz em uma organização?
Esse profissional exerce seu papel em uma área que é responsável por garantir o bom funcionamento da governança corporativa na empresa. Cabe ao Governance Officer atuar e liderar o estabelecimento de uma cultura e a criação de ambientes adequados à implantação de ações estruturadas de governança, fazendo com que as políticas e seus processos sejam eficazes. Ele é responsável por criar conexões e ser a ponte necessária em garantir que as partes sejam capazes de cumprir suas atribuições. No papel de conciliador e facilitador, essa posição de liderança da área requer amplo conhecimento da empresa e de seu negócio de forma a permitir o alinhamento das instâncias de governança para que assim favoreçam a comunicação entre o conselho, a gestão e seus stakeholders.

Existe uma diferença do Governance Officer desta década para o de outras épocas, na sua opinião? O que mudou?
A responsabilidade corporativa deixou de ser uma responsabilidade exclusiva dos acionistas há muito tempo. Atualmente, existe uma exigência crescente tanto da legislação, quanto das ações das empresas na consolidação de práticas de governança corporativa. É progressiva a preocupação com os interesses das partes relacionadas. Isso trouxe novas atribuições para a área e novos papéis a desempenhar. A mudança ocorre no reconhecimento e na importância da área e de seus profissionais, ficando evidente a maturidade que a governança corporativa atingiu ao longo dos anos, incluindo o Brasil. Vale destacar o significado da Lei 13.303/16 e seu impacto nas empresas públicas brasileiras Ela fez com que as organizações se movimentassem no sentido da adoção de boas práticas de governança, fortalecendo temas como a conformidade, a integridade e a gestão de riscos no meio público.

Quais os benefícios da atuação do Governance Officer para a tomada de decisão dos conselhos e para a cultura organizacional?
Com o ritmo das mudanças da atualidade, o papel do Governance Officer é fundamental para estabelecer a conexão entre as instâncias de governança e o ambiente externo, mantendo sobretudo esse último bem ciente dos cenários e de seus eventuais impactos nas operações da empresa. Além disso, a atuação do GO se destaca por sua capacidade em promover modificações na cultura organizacional. Por meio do GO, torna-se possível criar um ambiente seguro e eficaz para que a cultura, os princípios e as regras de governança e de compliance saiam do papel e se tornem efetivas.

Considerando a relevância da jornada ESG nas empresas, como o Governance Officer pode apoiar as ações relacionadas a ela, principalmente o G da jornada?
Hoje, além de pensar em indicadores financeiros e lucratividade, as empresas que querem crescer de forma consistente e se destacar em seu ramo de atuação precisam priorizar práticas consideradas positivas pelo mercado, clientes e sociedade. A necessidade de compreensão e a aplicabilidade de práticas ESG têm se tornado cada vez mais frequentes, porque atuar conforme o modelo amplia a competitividade organizacional, seja no mercado interno ou externo. O GO pode, nesse sentido, analisar os fatores que compõem o ESG e apoiar sua implementação. Isso é essencial para a tomada de decisão das empresas em relação à redução de riscos e ajuda a pensar nas respostas que a empresa dará à sociedade e ao meio ambiente.

Quais os principais desafios do mercado você apontaria para a área do GO hoje?
Estruturar a área de GO não é tarefa simples. Há poucos profissionais com as competências e habilidades para atuar e, principalmente, liderar a área de GO. Por isso, o esforço é grande para conscientizar o mercado sobre a relevância que esses profissionais têm para o sistema de governança das empresas. Por outro lado, é crescente o comprometimento das empresas com as melhores práticas de governança corporativa. Esse cenário tende a favorecer o interesse de profissionais em se formar no tema, ampliando sua participação no mercado e efetivamente elevando sua contribuição para com o sistema de governança das companhias.

E para aqueles que têm interesse em se tornar um Governance Officer, quais as principais competências para desenvolver e os primeiros passos a seguir?
Diante de tantas responsabilidades a área requer um perfil de múltiplos valores, capaz de atuar com alta capacidade de interação com públicos distintos, internos e externos, alcançado diversos níveis, especialmente, a alta administração. Por vezes, é preciso atuar como um articulador, facilitador e aconselhador das instâncias de governança. A atividade requer abrangência de conhecimento sobre muitos temas assim como a necessidade de acesso a muitas informações: conhecer o negócio, o mercado, a legislação e impactos da regulação na empresa é essencial.

Que tipos de práticas a organização pode desenvolver para valorizar ainda mais a atuação deste profissional e, consequentemente, das boas práticas de governança corporativa?
Primeiro, é preciso criar uma estrutura com profissionais qualificados e alinhados ao propósito de implantação de práticas de governança e isso depende do apoio incondicional da alta administração. A liberdade de atuação da área e de seus profissionais, por meio de regras claras para a atuação, é fator essencial para o sucesso do GO.

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