Governança, oportunidade e títulos

O futebol brasileiro está realmente entrando na era da gestão profissional, responsável e transparente?

  • 31/01/2023
  • Carlos Diehl, Ênio Coradi, Juliana Cordeiro, Monica Cordeiro e Thiago Dória.
  • Artigo

O Fórum de Governança para Clubes de Futebol, iniciativa conjunta promovida pelos Capítulos regionais do IBGC chega à sua 2ª Edição com a participação de dirigentes e especialistas de várias regiões do País, e tem aprofundado o debate sobre temas sensíveis do setor.

Não parece haver futuro sustentável para o futebol brasileiro sem o compromisso com a boa governança. Vimos que organização e planejamento geram bons resultados financeiros, que permitem maiores investimentos em atletas e estrutura, o que tende a aumentar as chances de melhores resultados esportivos.

Governança, integridade e transparência? Fundamentais.

Independente da formação, tamanho ou localização do clube, é muito difícil se manter competitivo no futebol sem um objetivo bem estruturado e uma gestão comprometida em atender a esse objetivo. Clubes ainda geridos de forma intuitiva e amadora estão colocando em risco a própria existência. Experiências no Brasil e no mundo demonstram que o sucesso é frequente e perene quando há compromisso com a organização do negócio.

Encontros do fórum confirmaram ser fundamental a disciplina orçamentária e a gestão de custos. Também discutiu-se dificuldades internas na implementação deste rigor, que pode impactar nos resultados esportivos de curto prazo. Um dos grandes desafios no mundo da gestão e da governança de clubes de futebol, portanto, está na “blindagem” de uma gestão financeira responsável em face dos reclames apaixonados e impacientes da torcida.

Sobre a Sociedade Anônima do Futebol - SAF (Lei 14.193/2021)

Embora a Lei da SAF seja recente (agosto de 2021), há notícia de que já foram constituídas quase 30 SAFs, havendo aproximadamente mais 60 em processo de negociação – o que é bastante relevante no universo de cerca de 850 clubes de futebol no Brasil. Se o primeiro intuito da legislação era estabelecer as bases para que a iniciativa privada aportasse no futebol, com segurança jurídica e condições tributárias similares às das associações, pode-se dizer que a iniciativa tem obtido êxito.

Essa movimentação também mostra que a SAF não é apenas (mais uma) tábua de salvação para clubes em dificuldades financeiras. Para muito além, a constituição de uma SAF pode (e deverá) acelerar a implementação de estruturas de governança, de melhores processos de decisão, de análise de risco e de controles internos, apresentando-se como valiosa alternativa aos clubes na busca de melhores resultados e de perenidade.

Os debates deixaram claro que SAF não é o único caminho, e que associações bem organizadas – com visão e jornadas consistentes de governança – são plenamente capazes de levar a cabo os desafios dos clubes no futebol atual. Inegável, porém, que as SAFs realmente podem ser um grande passo em direção à boa governança, principalmente em clubes que ainda não conseguiram priorizar esta transformação sozinhos. Adicionalmente, os requisitos previstos na Lei da SAF podem inspirar os clubes associativos a adotarem práticas de governança, já que o mercado exigirá maior assertividade.

O caminho inverso também pode ocorrer, pois a constituição de SAFs e atração de investidores surge justamente para as associações com maior nível de governança, integridade e transparência, e a recém aprovada sociedade entre o Esporte Clube Bahia e o City Football Group parece confirmar isso. As experiências na gestão das SAFs de Vasco, Botafogo, Cruzeiro, entre outras, certamente trarão mais aprendizados e também estão no radar dos participantes do Fórum.

Escalar a governança para o setor de futebol, independente do modelo de formação do clube tem sido (e deve continuar sendo) um diferencial de sucesso. Em breve, será indispensável.

A grande indústria do futebol

Além de todo o caldo cultural do futebol, um grande negócio se desenvolveu ao seu redor: a indústria do entretenimento, atraindo investimentos do mundo inteiro. Por isso, os clubes precisam se adaptar à lógica estratégica desse negócio: “muito além da bola, muito além do dia do jogo, com potencial de geração de receita várias vezes superior ao que é arrecadado hoje”, como manifestado por um dos especialistas participantes.

O crescimento desta indústria revela potencial de novas receitas no mundo digital, a otimização das negociações de direitos de transmissão e o desenvolvimento dos novos produtos além do jogo – considerando o tamanho, a relevância e a paixão de um público (torcida) cujas demandas merecem melhor entendimento e maior aproveitamento.

As experiências europeias e norte-americanas, também em diferentes esportes, apontam as enormes possibilidades. Outros países também fornecem pistas dos caminhos a seguir, e o entendimento do mundo do futebol a partir de um benchmarking amplo leva à compreensão de que o futebol também evoluiu no que tange à velocidade, à intensidade e à qualidade do jogo, além do condicionamento físico dos atletas. Tudo envolve infraestrutura, tecnologia e muito investimento.

O crescimento do negócio “futebol” ainda exigirá uma profissionalização crescente de seus agentes. Os pilares da governança que farão a diferença (transparência, prestação de contas, equidade e responsabilidade corporativa) não são construídos da noite para o dia. Começar logo parece a melhor receita, com formação de lideranças e a estruturação de colegiados competentes e plurais. A notícia animadora é que a jornada de implementação da governança já começou em muitos clubes e passou a ser valorizada no setor.

O diálogo seguirá em 2023 abordando o processo de planejamento estratégico dos clubes, as finanças no futebol, o papel do torcedor entre outros temas.

Sobre os autores: Carlos Diehl, Ênio Coradi, Juliana Cordeiro, Monica Cordeiro e Thiago Dória são participantes do 2º Fórum de Governança para Clubes de Futebol, do IBGC.

Este artigo é de responsabilidade dos autores e não reflete, necessariamente, a opinião do IBGC.

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