Em 27 de janeiro de 2011 era promulgada na França a lei Copé-Zimmermannlei, que estabeleceria uma cota de 40% de mulheres nos conselhos de administração de empresas listadas no CAC-40, o índice de referência da Bolsa de Valores de Paris. Dez anos depois, o país é o melhor aluno europeu. Com 44,6% de mulheres nos boards, a França está em primeiro lugar entre as nações engajadas na promoção da diversidade em conselhos de administração. No entanto, quando se olha os números de mulheres ocupando cargos executivos, os dados não são animadores: apenas 21% das mulheres são diretoras ou presidentes de empresas.
“Criamos a lei para os conselhos porque imaginamos que seria a ventosa que puxaria as mulheres para cargos executivos. Isso ainda não aconteceu”, disse Marie-Jo Zimmermann, ex-deputada e relatora da lei que leva seu nome. Para Marie-Jo, apesar do avanço, ainda há muito a ser feito. Durante o Think Tank intitulado Agir pour l'Egalité: Pouvoir et Gouvernance (Agir pela Igualdade: Poder e Governança), realizado pelo Connecting Leaders Club e a revista francesa Marie Claire, na última sexta-feira (29), a ex-deputada foi categórica: é preciso ver mulheres nos cargos de comando das empresas.
No Brasil, mulheres representam 11,5% do total de conselheiros, segundo a pesquisa Spencer Stuart Board Index de 2020. Em 2019, 26% dos cargos cargos de diretoria eram ocupados por mulheres. Já em relação aos cargos de presidente de empresa, apenas 13% eram exercidos por mulheres. Os dados são do estudo Panorama Mulher 2019, feito pelo Insper em parceria com a consultoria Talenses.
Clube do Bolinha
Entre as 40 empresas listadas no índice de referência da Bolsa parisiense, apenas uma tem uma mulher como presidente: Claire Waysand, da empresa de energia Engie. Mas é preciso reconhecer que houve avanço. Em 2010, no chamado ComEx, termo em francês que engloba todos os cargos de liderança - sejam em comitês que sirvam aos conselhos, sejam em cargos executivos de nível de diretoria até presidência - somente 10% eram ocupados por mulheres. Hoje, 21% destes postos está sob o comando feminino, o que representa um salto de 11 pontos percentuais em 10 anos.
Salto este atribuído à lei das cotas pela ministra francesa encarregada da igualdade entre mulheres e homens e diversidade, Elizabeth Moreno. "Eu não gostaria de precisar de uma lei para isso, mas somente as cotas têm permitido romper um pouco a lógica de "Clube do Bolinha" que ainda impera nas empresas do CAC-40", disse a ministra, também presente no Think Tank organizado pela Marie Claire.
Elizabeth Moreno acrescentou ainda que a igualdade entre homens e mulheres nas empresas vai além de uma luta feminista. Trata-se cada vez mais de exigência de investidores, incluindo aí os grandes fundos de investimento internacionais, preocupados com o desempenho econômico das empresas. Para ela, sem diversidade, corre-se o risco de perder consumidores. “A diversidade de nossa sociedade não permite mais que as empresas não se pareçam com os clientes a quem querem servir”. completou a ministra.
Para resolver esta desigualdade o governo quer ir mais longe. Bruno Le Maire, ministro da economia francês, declarou sua intenção de impor cotas para mulheres para cargos de dirigentes. “Devemos enfrentar os fatos: sem cotas, não há resultado”, disse Le Maire em recente pronunciamento na Assembleia Nacional. Le Maire disse ainda que a realidade da situação é que ela não está melhorando com rapidez suficiente. Nem em igualdade de remuneração, nem em ocupação de cargos de chefia.
Para o ministro, a diversidade em conselho não deve ser “a árvore que esconde a floresta”. E completou: "Ter sucesso de diversidade nos conselhos de administração enquanto nos comitês executivos não saímos de 20% de mulheres ocupando os cargos, francamente, é sinal que não avançamos”, disse.