Conselhos fortes para enfrentar o mundo pós-Covid-19

Dedicação é essencial para enxergar e lidar com novos desafios

  • 19/11/2020
  • Equipe IBGC
  • Congresso

Se a boa governança implica tomar decisões difíceis e assumir as responsabilidades por elas, cabe ao conselho administrativo colocar as expectativas e objetivos dos investidores no centro dos debates críticos. Daí que a excelência em governança exige visões interdisciplinares, diversidade, pessoas qualificadas, focadas e dedicadas, bem como uma dinâmica positiva entre os agentes. A descrição foi feita por Didier Cossin, fundador e diretor do IMD Global Board Center, no debate “Como a governança corporativa evoluirá para o futuro?”, realizado nesta sexta-feira, 19.

Para Cossin, os conselhos precisam de presidentes que possam estimular as discussões e funcionar como catalisador e atributos em um time diverso. Afinal, reconheceu, a diversidade agrega valor ao processo decisório, mas pode ser difícil de gerenciar. Os conselheiros representam diferentes acionistas e stakeholders, que têm diferentes interesses e divergem sobre as prioridades - da companhia e do próprio conselho. “No mundo todo, as pessoas estão dedicando mais tempo às tarefas do board”, afirmou. 

A maior dedicação dos conselheiros também entrou na pauta do moderador do debate, Sebastian Soares, sócio líder de environmental, social and governance advisory (ESG) da KPMG no Brasil. “São muitos os desafios pós-Covid e os conselheiros precisam se atualizar para fazer frente aos desafios”, comentou. 

Desdobrando os desafios de um futuro próximo, Cossin citou as novas formas de trabalho, a desglobalização e questões geopolíticas, o gerenciamento de stakeholders mais agressivos e a consolidação de importantes setores. E o conselho deve se permitir ter visões diferentes do CEO. “Ele próprio pode não estar se avaliando adequadamente. OE os conselhos podem enxergar questões culturais e de evolução social que vão além da visão dos executivos”, destacou, para exemplificar: “Pesquisas indicam que os CEOs nos EUA avaliam que o foco dos investidores em ESG é exagerado”. 

“Mas os investidores sentem que os CEOs não estão suficientemente interessados em ESG”, completou Nell Minow, vice-presidente da ValueEdge Adivsors. O interesse dos investidores foi reforçado também por Pedro Matos, diretor acadêmico do Mayo Center for Asset Management, da Universidade da Virgínia, que citou a valorização do índice de referência do Novo Mercado, da B3, acima do Ibovespa.

Atuação internacional

Entusiasta da importância e da atuação dos investidores globais na gestão das companhias, Nell Minow explicou: “Alguns problemas são resolvidos na jurisdição nacional. Mesmo que um país tenha as melhores regras do mundo, as empresas podem deixar sua sede ou operar parte do negócio em outra região”, lembrou, citando o Estado de Delaware, nos EUA, que oferece condições fiscais e ambiente de negócios amigáveis às empresas. 

Entre os problemas que não poderiam ser resolvidos sob uma jurisdição nacional e demandaram esforços mais dispersos, Nell Minow citou derramamentos de óleo, a pandemia do Covid, a reação aos atentados de 11 de dezembro e ao ataque a Pearl Harbour. “E nós [investidores de diferentes países] estamos investindo nas mesmas empresas”, diz ela. “Eu acredito que só a governança corporativa pode salvar o mundo.” 

Neste ponto, Eliane Aleixo Lustosa, conselheira da CCR e Solvi, concorda: a governança tem grande papel para endireitar desajustes. Porém, a executiva, que já foi CIO na Petros, destaca que os conselheiros podem falhar por inação. “É preciso pensar a responsabilidade fiduciária nesta função.” 

Mesmo vendo avanços no mercado brasileiro, Maria Helena S. F. Santana, conselheira de administração de companhias abertas e ex-Presidente da CVM, conclamou os conselhos a assumir seu papel com garra: “O conselho continua sendo o coração do sistema de governança, mesmo com o aumento da participação dos stakeholders. Mas, no Brasil, temos riscos relacionados ao peso do status quo, à homogeneidade e até à corrupção.”

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