Na última terça-feira, 21 de maio, aconteceu em São Paulo (SP) a Converge Capital Conference 2024, no contexto da Brazil Climate Investment Week (de 21 a 23 de maio). O evento, assim como as demais iniciativas dessa semana especial, teve o objetivo de “engajar os mercados locais e trazer investidores para impulsionar soluções climáticas”, como explicou Marina Cançado, idealizadora da conferência, em sua fala de abertura.
Pelo alinhamento com essa temática abordada no evento, o IBGC, por meio da iniciativa
Chapter Zero Brazil, marcou presença. O chapter faz parte de uma rede global de organizações independentes, sendo um desdobramento da Climate Governance Initiative (CGI), que surgiu via Fórum Econômico Mundial. O foco de todo esse movimento é sensibilizar e qualificar conselheiros de administração e lideranças sobre o tema da emergência climática.
Com essa perspectiva, a coordenadora do Chapter Zero Brazil, Gabriela Blanchet, esteve na sessão Descarbonização como vantagem competitiva, ao lado de Rodrigo Lauria, diretor de Mudanças Climáticas e Carbono, na Vale; Guilherme Setubal, gerente de ESG e relações com Investidores, na Dexco; e Filipe Alvarez, gerente executivo de sustentabilidade, na Azul Airlines – com mediação de Tarcila Ursini, conselheira independente, professora no IBGC, e que também tem atuação no Chapter Zero.
Governança climática: o tom tem que vir do topo
Gabriela aproveitou a oportunidade para salientar a importância da governança corporativa nas discussões que permearam a Converge Capital Conference. Afinal, dentro da sigla ESG, questões ambientais e sociais apareceram em diferentes falas e momentos, mas “sem uma governança robusta, sólida e funcionando, não há planejamento de descarbonização e de transição energética”, destacou. E essa governança robusta, segundo a especialista, deve ser capitaneada pelos conselhos de administração, já que “o tom tem que vir do topo – e é importante que os conselheiros tenham em mente que prestar contas de ESG aos acionistas faz parte dos deveres fiduciários dos administradores”.
Enquanto líderes nesta pauta, os demais integrantes do painel apresentaram adversidades e possibilidades do seu dia a dia. No caso de Rodrigo, da Vale, a mediadora Tarcila mencionou que esteve pessoalmente em Brumadinho (MG) acompanhando ações envolvendo gestão de riscos e novas tecnologias – e o diretor reforçou, que de fato, a companhia passa por um processo intensivo de de-risking nos últimos cinco anos, com transformação cultural e foco em inovação, e salientou que os obstáculos e esforços se concentram nas emissões de escopo 3 [que são as emissões de gases de efeito estufa que se originam em fontes que estão fora do alcance da gestão direta de uma organização] – a Vale conta com cerca de 800 fornecedores, o que ilustra o desafio.
Já Filipe, da Azul Airlines, comentou que, por conta de particularidades e necessidades técnicas – como o alto custo para produção, distribuição e tributação de biocombustível de aviação – o setor é um dos mais complexos no que diz respeito à descarbonização. Ainda assim, relatou que a Azul teve avanços, com destaque para o fato de terem sido a primeira companhia aérea da América Latina a ter suas metas de descarbonização aprovadas pela Science Based Targets Initiative (SBTi), iniciativa conjunta do Pacto Global da ONU e de outras instituições.
Por sua vez, Guilherme, da Dexco, destacou que as diferentes frentes de atuação da companhia trazem questões igualmente diferentes no momento de tratar da descarbonização, o que exige uma análise de materialidade. Assim, frentes como a de revestimento e cerâmica trazem maiores desafios, enquanto outras, como a de celulose solúvel e a dos painéis de madeiras, são mais bem resolvidas na questão energética; a fabricação de celulose solúvel, inclusive, já é sustentável em sua geração de energia, abastecendo a fábrica e até exportando energia limpa.
Em meio aos relatos dos seus colegas de sessão, Gabriela Blanchet lançou mão de dados como os da 2ª edição da
pesquisa Board Scorecard que indicam que, se por um lado 39,3% dos respondentes sinalizaram ser uma prática pautar a questão climática pelo menos quatro vezes ao ano na agenda do conselho, para 47,6%, os comitês de assessoramento ao conselho não levam em consideração as mudanças climáticas em suas discussões. “Ou seja, o estudo indica que evoluímos, mas não com a rapidez necessária e que gostaríamos”.
Questionada por Tarcila sobre como os conselhos podem acompanhar cada vez mais de perto essas questões, Gabriela respondeu que esse processo é uma jornada, que envolve uma mudança cultural, e pontos como o benchmarking entre organizações, e a presença em encontros e fóruns como os promovidos pelo IBGC, via Chapter Zero Brazil. “É necessário inovação, colaboração, conhecer riscos, advocacy, e ação”, sintetizou.
Mais detalhes sobre o evento
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Converge Capital Conference 2024 reuniu mais de 400 pessoas no SP Hall, na capital paulista, entre representantes de bancos e demais instituições financeiras, gestores de investimento e patrimônio, e empresários, e contou com painéis e sessões com nomes nacionais e internacionais, como André Esteves, chairman, sócio sênior e controlador do BTG Pactual; Tony Lent, co-fundador da Capital for Climate; Spencer Glendon, founder da Probable Futures, e
diversos outros especialistas e profissionais experientes.
Em suas falas, a idealizadora Marina Cançado, que atua há uma década e meia para desenvolver negócios e catalisar investimentos em sustentabilidade, em diferentes frentes e iniciativas, contou que há muito tempo se deu conta de que precisava falar sobre mudanças climáticas com o mercado financeiro, em uma conversa madura, consciente das complexidades e que desse voz a esse mercado. “O capital vai se mover na velocidade da confiança. Ninguém faz nada sozinho, este evento é fruto de esforço coletivo”, destacou.