A manhã da última terça-feira, 14 de maio, foi de trocas e reflexões para os membros da
Lifelong Learner – plataforma de educação continuada do IBGC, que atualmente conta com mais de mil membros ativos, e que oferece uma curadoria diferenciada dos temas mais relevantes para profissionais de governança.
Em um workshop on-line idealizado em parceria com os Chapter Zero Brazil e Chile, foi apresentado o case de sustentabilidade da vinícola chilena Concha y Toro, líder na produção de vinhos na América Latina, exportando para mais de 130 países. Valentina Lira, gestora de sustentabilidade da vinícola, e Blanca Bustamante, conselheira, ficaram a cargo da apresentação, com mediação de Gabriela Blanchet, coordenadora da iniciativa Chapter Zero Brazil, e Jocelyn Ann Black Duvanced, diretora executiva do Chapter Zero Chile.
Em sua fala introdutória, Gabriela frisou que devido aos
acontecimentos recentes no Rio Grande do Sul, “o momento não poderia ser mais urgente, para impulsionarmos a discussão sobre o impacto das mudanças climáticas em termos de pessoas, negócios e planeta”. Ela aproveitou para contextualizar sobre o Chapter Zero Brazil em termos de suas frentes de atuação e direcionamento estratégico – detalhes que podem ser conferidos na
página oficial da iniciativa – e reforçou a importância de seguir os princípios direcionadores da governança climática efetiva, que estão devidamente descritos
nesta publicação.
Já Jocelyn iniciou manifestando solidariedade ao estado gaúcho, e frisou que o Chapter Zero Chile tem como foco três grandes diretrizes: Vinculamos, colaboramos y actuamos (conectamos, colaboramos e agimos, em tradução livre); e portanto, agradeceu a oportunidade de conectar-se com outro chapter para trocar experiências, passando palavra em seguida para as representantes da Concha y Toro.
A sustentabilidade na perspectiva da gestão
Valentina começou destacando: “Somos uma indústria muito sensível ao que ocorre em termos de clima e natureza”, e detalhou o conceito de terroir – que consiste nos elementos humanos e naturais que regulam a cultura vinícola e a própria produção das bebidas, englobando aspectos como clima, solo e práticas agrícolas. “Os fatores climáticos não podem afetar nem a qualidade nem a consistência do nosso produto, então esse é um esforço produtivo que temos que fazer enquanto companhia”.
Assim, dentro da estratégia de sustentabilidade da companhia, um dos pontos-chave consiste na redução das emissões de escopo 3. Trata-se de emissões de gases de efeito estufa (GEE) que se originam em fontes que estão fora do alcance da gestão direta de uma organização. No caso da Concha y Toro, explicou Valentina, elas representam 83% das suas emissões, e seu monitoramento se torna ainda mais complexo por possuírem quatro mil fornecedores por ano.
A saída encontrada foi, primeiramente, realizar uma análise para entender quais dos fornecedores eram majoritariamente responsáveis por essas emissões, o que os fez mapear que o gargalo estava na área de embalagens e envase. A partir disso, consolidou-se um programa para que esses fornecedores pudessem incorporar metas de redução, e também um trabalho de auditoria por parte da Concha y Toro, para que todos possam trabalhar nessas metas de forma alinhada e em rede.
“Todas as propostas e a execução de programas e iniciativas como essa partem da gestão”, concluiu Valentina, “e nós, como gestores, buscamos que esses programas contam com respaldo do conselho, e que ele esteja alinhado a essas iniciativas”.
A especialista finalizou reforçando que é preciso romper o mito de que a área de sustentabilidade só gera gastos, sem nenhum tipo de economia ou lucro. “Um exemplo: aqui tínhamos uma dependência muito grande de energia termoelétrica, que é poluente”, contou, “e hoje estamos comprando energia renovável, sem emissão – algo que foi permitido após uma lei aprovada no Chile. E essa energia é de 12 a 15% mais barata do que a energia utilizada antes, o que nos fez gerar impacto ambiental positivo, e também impacto econômico positivo”.
A sustentabilidade na perspectiva do conselho
“A sustentabilidade é um tema central no conselho e no nosso negócio”, salientou Blanca Bustamante, conselheira da Concha y Toro, ao abrir sua fala. Segundo ela, apesar dos desafios trazidos pelo posicionamento internacional da marca – presente em mais de 130 países e em diferentes mercados – a estratégia de sustentabilidade existe desde 2012, e suas metas são ajustadas a cada cinco anos.
Ao detalhar a estratégia atual, a conselheira sublinhou a relevância desse ser um processo com enfoque multistakeholders; no caso, são seis os pilares a quem a vinícola quer impactar positivamente: consumidores; fornecedores; clientes; nossas pessoas; comunidade; e nosso planeta. Essa diferenciação entre consumidores e clientes ocorre porque o primeiro termo diz respeito a vendas B2C, que existem mas não são o foco principal do negócio; já o segundo termo refere-se ao B2B, como os grandes varejistas globais atendidos pela Concha y Toro. Há dez objetivos quantificáveis associados a esses seis pilares, e que são examinados minuciosamente pelo conselho.
Desse modo, Blanca destacou que um trabalho sério, que envolve padrões de medição elevados e auditorias independentes, é algo que está no core da sua organização e do seu modelo de negócios, e que gerou resultados de impacto: em 2021, a vinícola se tornou a primeira empresa listada na bolsa de valores do Chile a conquistar o certificado de B Corp, dado a empresas que cumprem, de forma voluntária, normas mais elevadas de desempenho, transparência e responsabilidade. Além disso, a meta net zero para a emissão de gases do efeito, prevista para ser atingida em 2050, foi antecipada em dez anos, e será alcançada em 2040.
“A explicação para esse êxito vem de um alinhamento total entre conselho de administração, gestão, e o modelo de negócios da companhia. Isso nos permitiu avançar e obter essas conquistas que, acredito, são muito relevantes”, encerrou.