“Cabe ao governance officer atuar em todo o sistema de governança”

Anamaria Pugedo, da Cemig, fala sobre o papel do governance officer na estruturação e liderança da área de governança nas companhias

  • 10/08/2022
  • Angelina Martins
  • Bate-papo

A sólida experiência na área de governança corporativa, onde atua há 36 anos, possibilita à consultora Anamaria Pugedo detalhar com precisão ao Blog IBGC questões como a função do governance officer na estruturação, implantação e aprimoramento da boa governança nas empresas, as particularidades do trabalho no setor público e as suas perspectivas para a profissão: “Há alguns anos, a atuação da área de governança tem sido mais reconhecida no Brasil e se destaca a necessidade de traduzir a maturidade e a cultura da organização para cada etapa de seu processo de governança”. 

É importante ressaltar que Anamaria Pugedo integrou o Grupo de Trabalho do IBGC formado para a elaboração da publicação "Governance Officer", participou da Comissão de Secretaria de Governança do IBGC e da elaboração do Caderno de Secretaria de Governança. Confira a entrevista:

Blog IBGC: Quais as principais dificuldades encontradas pelo Governance Officer (GO) para implementar, gerir e aprimorar a governança corporativa em uma empresa?
Anamaria Pugedo: São passos importantes para o êxito nesse processo de implantação, gestão e aprimoramento do sistema de governança em uma organização e, portanto, sem eles a jornada ficará mais árdua: ter o apoio da alta gestão, notadamente do presidente do conselho de administração, mas sem diminuir a importância, também, do presidente da diretoria executiva e do conselho fiscal; conquistar a confiança dos vários agentes de governança, vez que permeamos vários ambientes e temos acesso a informações estratégicas e confidenciais; demonstrar que o GO trabalha para somar e agregar valor à organização e não para "burocratizá-la".

A área de governança precisa ser estruturada pelo profissional GO ou ela pode ser edificada por outros agentes de governança?
A estruturação, bem como a manutenção e a evolução da área de governança, se conduzidas por profissional que tenha experiência com esse processo, será mais adequada ao momento e à maturidade da organização e na medida em que ela estiver preparada para tal, culminando em menores custos e maior eficiência. Não basta definir alçadas, criar políticas e instruções, definir critérios de elegibilidade e eleger dirigentes, é preciso traduzir a maturidade e a cultura da organização para cada etapa desse processo, que é constante; fluir e absorver as melhores práticas. O GO tem a habilidade e a capacidade para tal.

Como o reconhecimento da função do GO proporcionará mais visibilidade e acreditação da área de governança na organização?
Na medida que você tem profissionais capacitados e reconhecidos em qualquer processo, é natural que a organização tende a aprimorar-se e robustecer-se. Não é diferente com a área de governança, notadamente considerando que o GO atua no processo de deliberação e fiscalização da organização, naturalmente sensível, intenso e demandante de habilidades e cuidados que esse profissional saberá utilizar para fortalecer a área e dar transparência à organização.

Quais profissionais devem constituir a área de governança corporativa em uma empresa?
Acredito que o perfil e as habilidades pessoais são mais importantes que, efetivamente, a formação acadêmica desses profissionais. A equipe, em princípio, será mais sênior, para ter as habilidades e a maturidade inerentes à função.

Como tornar mais assertiva a relação do GO com o conselho de administração?
Não somente com o conselho de administração, mas também com oconselho fiscal e a diretoria executiva, são importantes os despachos frequentes e o diálogo aberto.

Qual a abrangência da área de secretaria de governança em relação ao GO?
A secretaria de governança é parte da área de governança ou está sob a coordenação do GO (dependerá da estrutura e maturidade de cada organização). As atribuições são distintas, cabendo ao GO atuar em todo o sistema de governança e a área de secretaria de governança é parte desse sistema.

Existem particularidades no trabalho do GO em uma estatal?
O recurso público traz consigo uma "vitrine" maior em termos de fiscalização e legislação. Não somente em relação aos aspectos e responsabilidades inerentes à gestão, como observação à legislação e regulamentação usuais, estatuto, acordo de acionistas, CVM, agências reguladoras. Há, atualmente, legislação específica (Lei das Estatais) e em termos de fiscalização e controle adicionalmente temos a atuação de tribunal de contas, controladoria geral, ministério público e, por vezes, CPI. A responsabilidade do GO é maior. A alternância nos órgãos da administração e da fiscalização costuma ser maior, vez que em nosso País é frequente a alteração de conselheiros e diretores não somente a cada quatro anos de mandato dos dirigentes públicos, mas no curso dos mandatos desses agentes de governança. E isto também impacta o trabalho do GO, não somente pela formalização das eleições, mas na atuação do aculturamento dos membros que chegam à organização e manutenção da independência do GO. A atenção a potenciais conflitos de interesse e atuação para a solução de possíveis desgastes são pontos também sensíveis em empresas públicas.

Quais as suas perspectivas para a profissão, no Brasil, tendo em vista sua significativa experiência na área de governança?
Há alguns anos, no Brasil, era difícil encontrar no mercado um profissional experiente na área de governança, quer fosse um secretário de governança, quer fosse um GO. A definição, a identificação e o reconhecimento das atribuições e responsabilidades do GO culminavam em uma grande interrogação nas organizações e junto a recrutadores também. Considerando que a aplicação das melhores práticas de governança é reconhecida internacionalmente, inclusive para a longevidade e melhores resultados das organizações, e que a área ou o profissional de governança cabe em qualquer organização, independentemente do seu porte, temos um horizonte amplo para nossa atuação. Há muito ainda a conquistar mas, na medida que são disponibilizados fóruns de discussão, divulgações e cursos, mais oportunidades de trabalho e de atuação surgirão e mais poderemos contribuir com a jornada da governança nas organizações.

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