“Ausência de planos de gerenciamento de crises nas empresas é preocupante”, aponta Luiz Martha

Gerente de Pesquisa e Conteúdo do IBGC comenta novo levantamento do instituto sobre os impactos da Covid-19 nas organizações

  • 22/06/2020
  • Equipe IBGC
  • Bate-papo
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Luiz Martha, gerente de Pesquisa e Conteúdo do IBGC

Para compreender a percepção dos colaboradores das organizações sobre o enfrentamento corporativo à Covid-19, o IBGC realizou uma nova pesquisa sobre os impactos da pandemia no país. Dos 519 respondentes, entre conselheiros, executivos, gerentes, analistas, coordenadores, supervisores, consultores, superintendentes, professores, estagiários, assessores, auxiliares, dentre outros, 61,7% disseram que as empresas em que atuavam não estavam preparadas para lidar com a crise atual. Segundo o gerente de Pesquisa e Conteúdo do IBGC Luiz Martha, um dos motivos deste despreparo passa pela ausência de planos de gerenciamento de crises nas companhias.

O levantamento mostra ainda que a falta de infraestrutura, rotinas de trabalho exaustivas e reuniões em excesso figuram entre as maiores dificuldades enfrentadas pelos colaboradores em teletrabalho neste momento, além de um grave desalinhamento entre discurso e prática nas empresas. Em entrevista ao Blog IBGC, Martha dá mais detalhes sobre os resultados da pesquisa, a segunda da entidade com foco nas transformações causadas pelo novo coronavírus. Leia:

IBGC: As empresas estavam preparadas para uma crise dessa magnitude? 

Luiz Martha: Na avaliação de mais da metade dos colaboradores que participaram da pesquisa (61,7%), as companhias em que trabalhavam não estavam preparadas para uma crise com essas proporções, mas o que preocupa é a ausência de planos de gerenciamento de crises nas organizações: 43% dos respondentes relataram que as empresas em que atuam não possuem políticas, procedimentos formais ou um plano de gestão de crises que direcionem a atuação da organização diante de um momento crítico. 

A fatia sobe para 55% quando consideradas as respostas apenas daqueles que indicaram que a sua empresa não estava preparada. Mesmo nas empresas que possuem esses planos, em quase 40% dos casos os colaboradores recebem pouca ou nenhuma informação sobre eles. Ou seja, não existe uma adequada disseminação de informações sobre esse assunto para sua rede de colaboradores.

Quais outros destaques do levantamento chamam a atenção?

Um segundo ponto de preocupação é o desalinhamento entre discurso e prática nas companhias. Quando questionados se as empresas nas quais atuavam aderiram aos movimentos contra demissões neste período, por exemplo, muitos respondentes afirmaram que sim. No entanto, quando perguntamos aos mesmos respondentes se houve demissões em grandes volumes essa afirmação também foi positiva. A partir disso, podemos considerar que ou a situação mudou rapidamente, inviabilizando a manutenção deste compromisso, ou que a empresa passou a fazer parte desses movimentos simplesmente para acalmar os ânimos, apenas no discurso. Quando perguntamos se a companhia fez alguma declaração durante a pandemia, seja pública ou privada, e depois agiu de forma diferente, 98% dos respondentes disseram que sim, e nos mais diversos temas. Do ponto de vista da governança corporativa, este comportamento é um grande sinal de alerta. É preciso buscar alinhamento: o walk the talk é fundamental para gerar confiança (interna e externamente), segurança e criar um clima e uma cultura adequados na organização.

Qual foi a percepção dos colaboradores sobre o home office?

As empresas não estavam preparadas para uma migração em massa para o home office, tanto do ponto de vista tecnológico quanto do ponto de vista cultural. O teletrabalho apareceu como uma das principais mudanças na rotina de trabalho dos colaboradores (40,5%), seguido pelas escalas de folgas e revezamento (16,8%), redução parcial da jornada de trabalho (14,6%), férias coletivas (12,1%), criação de novos turnos de trabalho (10,6%) e antecipação de férias individuais (1,4%). 

Quais outras dificuldades foram citadas durante o teletrabalho?

O que identificamos é que os colaboradores estão tendo que lidar com rotinas de trabalho exaustivas e muitas reuniões. As maiores dificuldades apontadas pelos respondentes foram questões relacionadas a falta da interação humana e dos relacionamentos interpessoais (16%), falta de infraestrutura no domicílio (15,2%), dificuldade para delimitar o horário de trabalho, tornando as jornadas longas (14,7%), dificuldade de conciliar as rotinas de trabalho e doméstica (14,5%), o excesso de reuniões virtuais e telefônicas (11,5%), dentre outros.

E quais lições de governança corporativa podemos tirar do levantamento?

Novamente, a questão do alinhamento do discurso, o chamado tom do topo tem que ser levado muito a sério. Falhas nesse sentido podem levar à companhia ao descrédito, podem resultar em sérios problemas de imagem. O funcionário percebe um desvio de discurso, que depois pode ser visto por um cliente e, mais tarde, por toda a sociedade. As empresas devem ficar atentas se estão agindo de acordo com suas falas e crenças, com foco sempre na integridade e na transparência. Além disso, acredito que o surgimento da Covid-19 fez com que todas as companhias percebessem que devem estar prontas para enfrentar dificuldades, por mais complexas ou pouco prováveis que sejam. Um plano de crise estruturado é essencial e deve ganhar ainda mais relevância no futuro.

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