Liderança feminina e mediação

Em artigo, Adriana Adler reflete sobre a importância da escuta empática para a construção de trabalhos coletivos

  • 20/01/2020
  • Autor Convidado
  • Artigo

Cada vez mais temos visto uma nova cultura em transformação, um modelo que tende para a cooperação, abarcando diferentes perspectivas, co-criando soluções e tomando decisão em grupo, em colegiado. A tendência é valorizar as habilidades socioemocionais, com características que promovem colaboração, empatia, sensibilidade e consenso. Todas associadas às características femininas, e também observadas na prática da mediação.

A mediação é um método no qual o(a) mediador(a) atua como facilitador da interação e do diálogo entre as pessoas, navegando pela composição de diferentes percepções, que podem parecer incompatíveis. Mergulha nos relatos, ajudando a identificar o significado que cada um coloca em uma questão, acessa as expectativas, magoas e os receios mais íntimos, não explorados. É um espaço que acolhe a emoção, a dor, e oferece um ambiente favorável para criar uma nova versão. Para tanto, o(a) mediador(a) trabalha com a escuta empática, fazendo a leitura das percepções, compreendendo os sentimentos e identificando as necessidades, interesses e as fontes que motivam os comportamentos, ações e intenções. Apoia a expressão das emoções de uma forma mais adequada. Empodera as pessoas, equilibrando as vozes, independente da hierarquia societária, organizacional, ou familiar.

E neste diálogo, que amplia a visão, traz novos ângulos, significados, e imagens podemos observar similaridade com as características femininas.

A liderança feminina, assim como a mediação, tem vários elementos que favorecem esta cultura. A tendência à cooperação, de colaboração tem em seu princípio a construção em conjunto, versus uma visão de ganha perde. Na mediação o foco está em encontrar a melhor solução possível, para todos envolvidos. A liderança feminina é horizontal, é inclusiva, encoraja a participação e compartilha o poder e a informação. Tende a criar e a fortalecer as identidades de grupo, do coletivo. Busca as soluções de forma abrangente, preferindo, se possível o “e” em vez do “ou”. O estilo é participativo, colaborativo e educativo, prefere nivelar conhecimento e ter a colaboração, gerando envolvimento. E é desta forma que as pessoas são protagonistas de suas escolhas, como na mediação, que tem entre seus princípios a responsabilização e auto composição. Gera nas pessoas que participaram o compromisso com suas próprias decisões. Um modelo mais sustentável.

Uma das principais ferramentas da liderança feminina é a mesma que na mediação: a pergunta. A característica investigativa, exploratória, buscando compreender antes de uma decisão. E assim como o mediador ajuda para que as escolhas sejam tomadas de forma mais consciente dos impactos, o feminino tende a pensar em longo prazo, no impacto, nas consequências, procura proteger e dar sustentabilidade. Prioriza o equilíbrio de resultado: sucesso nos números e sucesso nas relações.

Outra característica feminina é a leitura de cenário com visão holística, observação sistêmica que decifra as entrelinhas. A liderança feminina, ou melhor, a liderança com características femininas, assim como as habilidades da medição é sobre empatia, construção de relacionamentos, e, portanto, sua natureza tem o foco nas pessoas, nas relações, levando em conta opiniões, gerando e nutrindo diálogos e trocas mais significativas. O feminino tem destreza em gerir conflitos, funciona muitas vezes como guardiã das emoções.

Afinal, quando se está no meio de um conflito, a visão fica turva, com pontos cegos. As pessoas se posicionam de forma rígida, por vezes carregado de ressentimentos e raiva. Pensando na coesão societária, para fomentar uma única voz que sai do conselho, para famílias empresárias que queiram preservar o patrimônio empresarial e patrimônio das relações a mediação ressignifica , transforma e apoia novos acordos e combinados. Muito bom presenciar esta evolução, que valoriza as habilidades socioemocionais. Cada vez mais vemos sócios, conselheiros e consultores buscando potencializar a escuta empática, a colaboração e a construção em conjunto.

*Definição de mediação pelo Instituto Mediativa: o processo será confidencial. Nele consultores, imparciais e neutros, buscam facilitar e ajudar os participantes a chegarem a decisões que atendam aos interesses das partes. As decisões serão tomadas exclusivamente pelos participantes, cabendo aos facilitadores a condução do processo de entendimento.

Sobre a autora

É coordenadora da Comissão de Pessoas do IBGC

Este artigo é de responsabilidade da autora e não reflete, necessariamente, a opinião do IBGC.