Agronegócio: governança, tomada de decisão e desenvolvimento

Artigo da 7ª edição do IBGC Dialoga analisa tópicos relacionados a riscos, sucessão e visão estratégica no contexto do agro

  • 02/09/2024
  • Melina Lobo
  • Artigo

De março a junho de 2024, tive a oportunidade de ser a instrutora da 7ª Edição do IBGC Dialoga com o tema Agronegócio. Neste artigo, trago um pouco do que discutimos nos quatro encontros.

No primeiro, abordamos um resumo da pesquisa Governança no Agronegócio: Percepções, Estruturas e Aspectos ESG nos Empreendimentos Rurais Brasileiros, realizada pelo IBGC juntamente com a KPMG, em 2022. A partir disso, levantamos os principais pontos para discussão nos encontros seguintes. Temas como inovação, sucessão e segurança alimentar se sobressaíram, mas surgiram outras preocupações como profissionalização/gestão, implementação de governança, governança familiar, risco, imagem do agro, comunicação, tecnologia/inovação, mão de obra no campo, celeiro do mundo X supermercado do mundo, rastreabilidade, reforma tributária, riscos climáticos e geopolíticos que afetam o setor, dentre outros.

Dado o enorme conhecimento e experiência dos participantes que atuam em diferentes locais do nosso país de dimensões continentais e culturais diversas, o encontro agregou muito valor. De qualquer forma, os temas da sucessão e inovação foram unanimidade, e como terceiro tema, ficamos com os riscos do agronegócio brasileiro.

No segundo encontro, recebemos como convidado Ricardo Tortorella, que nos compartilhou sua experiência acerca dos riscos no mercado. Primeiro, abordamos o cenário geopolítico mundial que influencia diretamente no preço dos insumos importados – notadamente os fertilizantes dos quais o Brasil é extremamente dependente de importação, e também os preços de exportação dos produtos ditados pelos mercados internacionais.

Em segundo lugar, nossos problemas de logística são um grande fator de risco. Somos extremamente dependentes dos portos de Santos (SP) e Paranaguá (PR), sendo que os portos do Arco Norte estão cada vez mais ganhando espaço. Também ficou evidente a dependência das rodovias, pois os produtos são transportados por grandes distâncias até chegarem aos portos. Além disso, os caminhões que levam os grãos voltam vazios ao seu destino.

Por último, falamos dos riscos de segurança jurídica em razão das nossas alterações legislativas constantes, da ausência delas ou sua interpretação nos tribunais pátrios. Aliado à complexidade da legislação tributária, isso faz o crédito ficar mais caro e o produtor rural depende deste recurso, que também afugenta o investidor estrangeiro. Ao final, comentamos sobre as feiras do agronegócio em todo o país e da relevância das mesmas para disseminar boas práticas, inclusive de governança.

Já no terceiro evento, falamos sobre sucessão na gestão e na propriedade. A convidada Katerine Rios contou a história da sua família que é uma das fundadoras da cidade de Luís Eduardo Magalhães (BA) e da sua avó com mais de 80 anos, que ainda gere os negócios da família e está expandido as fazendas para o Maranhão. Ela expôs como é complexo alinhar os interesses quando o sucedido não quer passar o bastão da liderança.

Falamos também sobre a sucessão na gestão das empresas da cadeia do agronegócio, como nosso participante Rodrigo Junqueira – já que esta envolve todos os fornecedores de máquinas e implementos agrícolas, transporte, fornecimento de insumos, sementes e adubos, além dos consumidores, armazéns e distribuidores. A sucessão envolve todos os elos do agronegócio.

Os casos reais trazidos pelos debatedores ilustram os desafios e a importância de se realizar a sucessão do patrimônio e da gestão antecipada e conscientemente. Quando bem-organizados, transparentes, envolvendo todos os stakeholders, conciliando todo este processo com fundadores/patriarcas/matriarcas fortes, ativos e dominantes por cada vez mais tempo e idade, há maior chance de sucesso.

E então partimos para o quarto e último encontro, com a participação especial de José Luiz Tejon. A roda de conversa abordou o agro como sistema de saúde, a visão estratégica da cadeia produtiva – com integração da ciência até o consumidor final, governança ambiental, importância da inovação do modelo do agronegócio e papel da tecnologia e integração sistêmica.

Tejon trouxe insights da sua conversa com Prof. Dr. Ray Goldberg, criador do conceito agribusiness, e destacou a preocupação com a educação e movimentação da cultura, projetando o papel das futuras gerações no mundo cada vez mais consciente.

Sem dúvida, as boas práticas de governança, auxiliam na tomada de decisão e desenvolvimento de um plano estratégico para alavancar o crescimento, e posicionar de maneira eficiente e construtiva a contribuição brasileira aos sistemas e cadeias agroalimentares globais.

As interações com os participantes foram ótimas e surgiram inspiradoras conversas e oportunidades para a concretização de planos de desenvolvimento estratégico para as várias dimensões do agronegócio nacional. Não existe outro caminho para o desenvolvimento da governança que não passe pela educação e aculturamento e, sobretudo, pelo acompanhamento contínuo. Até o próximo IBGC Dialoga Agronegócio!


Sobre a autora: Melina Lobo é advogada especializada em sucessão, cisão, negociação de conflitos familiares/empresariais e na implantação de conselhos consultivos, de administração e de família. Como conselheira,  é  presidente do conselho de administração da Associação Amigos da Casa Verde, conselheira independente da Tapajós Engenharia Ltda e conselheira consultiva do IPOG. É coordenadora estendida do Capítulo Brasília/Centro-Oeste do IBGC, vice-coordenadora do GT Agro do IBGC e escritora.



Este artigo foi produzido a partir da 7ª edição do IBGC Dialoga, que ocorreu no período de março a junho de 2024. A iniciativa se baseia na formação de grupos, a fim de criar espaços de debate entre pares, trazendo temas da governança corporativa em setores específicos. Nessa última edição, os grupos foram organizados nas temáticas: Agronegócio, Cooperativas, Empresas de Controle Familiar, Futebol, Indústria, Mercado de Capitais, Mudanças Climáticas, Saúde, Setor Financeiro, Tecnologia, Transição Energética e Varejo.

Este artigo é de responsabilidade dos autores e não reflete, necessariamente, a opinião do IBGC.

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